domingo, 11 de janeiro de 2015

Quem é Deus



O Deus Único e Verdadeiro
Russell E. Joyner


Muitas teologias sistemáticas do passado tentaram classi­ficar os atributos morais e a natureza de Deus. O Supremo Ser, porém, não se revelou simplesmente para transmitir-nos conhecimentos teóricos a respeito de si mesmo. Pelo contrá­rio: a revelação que Ele fez de si mesmo está vinculada a um desafio pessoal, a uma confrontação e a oportunidade de o homem reagir positivamente a essa revelação. Isso fica evi­dente quando o Senhor se encontra com Adão, com Abraão, com Jacó, com Moisés, com Isaías, com Maria, com Pedro, com Natanael e com Marta. Juntamente com estas e muitas outras testemunhas (ver Hb 12.1), podemos testificar que estudamos a fim de conhecê-lo experimentalmente,
e não somente para saber a respeito dEle. "Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os moradores da terra. Servi ao SENHOR com alegria e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o SENHOR é Deus" (SI 100.1-3). Todos os textos bíblicos que examinarmos devem ser estudados com um coração disposto à adoração, ao serviço e à obediência ao Único e Verdadeiro Deus.
Nossa maneira de compreender a Deus não deve basear-se em pressuposições a respeito dEle, ou em como gostaría­mos que Ele fosse. Pelo contrário: devemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós através das Escritu­ras. O ser humano tende a criar falsos deuses, nos quais é fácil crer; deuses que se conformam com o modo de viver e com a natureza pecaminosa do homem (Rm 1.21-25). Essa é uma das características das falsas religiões. Alguns cristãos até mesmo caem na armadilha de se desconsiderar a auto-, revelação divina para desenvolver um conceito de Deus que está mais de acordo com as suas fantasias pessoais do que com a Bíblia, que é a nossa fonte única de pesquisa, que nos permite saber que Deus existe e como Ele é.
A Existência de Deus
A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova racio­nal quanto à existência de Deus. Pelo contrário: ela já começa tomando a sua existência como pressuposição bási­ca: "No princípio, Deus"(Gn 1.1). Deus existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia, há evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado "disseram os néscios no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1); por outro: "os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (SI 19.1). Deus se tornou conhecido mediante o seu ato de criar e de sustentar tudo quanto existe. Ele dá vida, alento (At 17.24-28), alimento e alegria (At 14.17). Essas ações são acompanhadas por palavras que interpretam o seu significado e relevância, fornecendo um registro que explica sua presença e propósito. Deus também revela a sua existência através do ministério dos profetas, sacerdotes, reis e servos fiéis. Finalmente, Deus se revelou claramente a nós mediante o Filho e por intermédio do Espírito Santo que em nós habita.
Os que, entre nós, acreditam que Deus haja se revelado nas Escrituras, descrevem a Deidade única e verdadeira ten­do como base sua auto-revelação. Vivemos, todavia, num mundo que, via de regra, não aceita esse conceito da Bíblia como fonte primária de informação. E são muitas as pessoas que preferem confiar na engenhosidade e percepção huma­nas para lograrem alcançar uma descrição particular da Dei­dade. Para acompanharmos os passos do apóstolo Paulo na obra de se conduzir a humanidade das trevas para a luz, precisamos ter consciência das categorias gerais dessas per­cepções terrenas.
Sob o ponto de vista secular de se entender a história, a ciência e a religião, a teoria da evolução tem sido aceita por muitos como fato fidedigno. Segundo essa teoria, à medida que os seres humanos foram evoluindo, também evoluíram suas crenças religiosas e seus modos de expressá-las.  A religião é apresentada como um movimento que parte de práticas e crenças simples para as mais complexas. Os segui­dores da teoria da evolução dizem que a religião começa no nível do animismo - a crença de que poderes sobrenaturais, ou espíritos desencarnados, habitam nos objetos naturais e físicos. Tais espíritos, segundo suas próprias vontades malig­nas, teriam influência sobre a vida humana. O animismo evoluiu-se até transformar-se no politeísmo simples, no qual certos poderes sobrenaturais são considerados deidades. O passo seguinte, ainda segundo os evolucionistas, é o henoteísmo: uma das deidades atinge uma posição de supre­macia sobre todos os demais espíritos, e é adorada em detri­mento das outras. Segue-se a monolatria, quando as pessoas optam por adorar um só dos deuses, sem, porém, negar a existência dos demais.
A conclusão lógica (segundo essa teoria) é o monoteísmo que surge somente quando as pessoas evoluem-se ao ponto de negar a existência de todos os demais deuses e de adorar uma única deidade. As pesquisas realizadas pelos antropólo­gos e pelos missiologistas neste século, demonstram com clareza que essa teoria não é corroborada pelos fatos históri­cos, nem pelo estudo cuidadoso das culturas "primitivas" contemporâneas.  Quando os seres humanos criam um siste­ma de crenças segundo seus próprios desígnios, ele não ten­de a se desenvolver em direção ao monoteísmo, mas, sim, ao animismo e à crença em vários deuses. A tendência é cair no sincretismo, acrescentando-se a este deidades recém-descobertas ao conjunto das que já são adoradas.
Em contraste com a evolução, temos a revelação. Ser­vimos a um Deus que tanto age quanto fala. O monoteísmo não é o resultado do caráter humano evolucionário, mas do desvendamento que Deus fez de si mesmo. A revela­ção divina é progressiva na sua natureza à medida que Deus se revelou através dos registros bíblicos. Já no dia de Pentecostes, após a ressurreição e ascensão de Cristo, temos a prova de que Deus realmente se manifesta ao seu povo em três Pessoas distintas. Nos tempos do Antigo Testamento, porém, a prioridade era estabelecer o fato de que há um só Deus em contraste com os inúmeros deuses cultuados pelos vizinhos de Israel, em Canaã, no Egito e na Mesopotâmia.
Através de Moisés, essa verdade foi proclamada: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4).  A existência de Deus e a sua atividade contínua não dependiam do seu,relacionamento com qualquer outro deus, ou criatura. Pelo contrário: nosso Deus podia simplesmente "ser", optando por chamar o homem a estar ao seu lado (não porque Ele precisasse de Adão, mas porque este precisava de Deus).

Os Atributos Naturais de Deus
"Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas" (At 17.25). Deus existe por si mesmo, pois não depende de nenhuma fonte originária para existir. Seu próprio nome, Yahweh, declara que "Ele é e continuará sendo" Deus não depende de ninguém para aconselhá-lo ou para ensiná-lo: "Com quem tomou conselho, para que lhe desse entendimento...' e lhe fizesse notório o caminho da ciência?" (Is 40.14). Ele não necessitou de outro ser para ajudá-lo na criação e na provi­dência (Is 44.24). Deus quer e pode outorgar vida ao seu povo. Ele é único por independer de qualquer outro ser no Universo: "O Pai tem vida em si mesmo" (Jo 5.26). Nenhum ser criado pode fazer tal declaração. Quanto a nós, criaturas, só resta declarar-lhe nossa adoração: "Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas" (Ap 4.11).
Espírito
Os samaritanos eram considerados sectários pelos judeus do primeiro século, e inimigos a serem evitados. Forçados a abandonar a idolatria, os samaritanos elaboraram uma inter­pretação própria do Pentateuco, consagrando o monte Gerizim como o seu local de adoração. Além disso, rejeitavam o restante do Antigo Testamento. Jesus, na sua conversa com a mulher samaritana, desfez esse grave erro: "Deus é Espíri­to, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4-24)- De acordo com essa declaração, a adora­ção está limitada a nenhum local específico, posto que tal , fato refletiria um conceito falso da natureza divina. A adora­ção teria de estar em conformidade com a natureza espiritual de Deus.
A Bíblia não define "espírito"; limita-se a oferecer algu­mas descrições. Deus, como espírito, é imortal, invisível e eterno, digno de nossa honra e glória para sempre (1 Tm 1.17). Como espírito, Ele habita na luz, da qual os seres humanos são incapazes de aproximar-se: "A quem nenhum dos homens viu nem pode ver" (1 Tm 6.16). Sua natureza espiritual é-nos de difícil entendimento, pois ainda não o temos visto conforme Ele é. E, à parte da fé, somos incapazes de compreender o que não experimentamos. Nossa percepção sensorial não nos oferece nenhuma ajuda para discernirmos a natureza espiritual de Deus. Ele não está preso à matéria. Adoramos aquEle que é bem diferente de nós, mas que deseja dar-nos o Espírito Santo como antegozo do dia em que o veremos conforme Ele é (1 Jo 3.2). Então, poderemos aproximar-nos da sua presença, porque a nossa mortalidade será anulada, e nos vestiremos da gloriosa imortalidade (1
Co 15.51-54).

Cognoscíveis

Deus jamais foi visto (Jo 1.18). O Deus onipotente não pode ser plenamente compreendido pelo ser humano (Jó 11.7), mas se revelou em diferentes ocasiões e de várias maneiras. Isto indica que é da sua vontade que o conheçamos e tenhamos um correto relacionamento consigo (Jo 1.18; 5.20; 17.3; At 14.17; Rm 1.18-20). Isso não significa, porém, que podemos compreender completa e exaustivamente a totalidade do caráter e da natureza de Deus (Rm 1.18-20; 2.14,15). Assim, da mesma forma que Ele se revela, também se oculta: "Verdadeiramente, tu és o Deus que te
ocultas, o Deus de Israel, o Salvador"
(Is 45.15).
Deus não se oculta para encobrir-nos seus atributos, mas para deixar-nos bem patentes nossos limites diante do seu ilimitado poder. Pelo fato de Deus ter decidido agir através de seu Filho (Hb 1.2) e ter a sua plenitude habitando nEle (Cl 1.19), podemos estar confiantes de que encontraremos em Jesus as grandiosas manifestações do caráter divino. Jesus não somente torna conhecido o Pai, como também revela o significado e a importância do Pai Celestial. 9
Por meio de sua palavra, Deus expressa o seu desejo de que o conheçamos: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (SI 46.10). Ele prometeu a Israel que, submetendo-se este à sua vontade, suas manifestações comprovariam ser Ele, de fato, o seu Deus, e que Israel era o seu povo: "E sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios" (Ex 6.7). A conquista da Terra Prometi­da era também uma evidência significativa do fato de o Senhor ser o Deus único, vivo e verdadeiro, e da possibilida­de de se o conhecer (Js 3.10). Os cananeus e outros povos que estavam prestes a sofrer o castigo divino seriam obriga­dos a reconhecer que Deus existe, e que estava lutando por Israel (1 Sm 17-46; 1 Rs 20.28).
Os que se submetem ao Senhor, entretanto, vão além da mera comprovação de sua existência, alcançando o conhe­cimento de sua pessoa e propósito (1 Rs 18.37). Segundo o Antigo Testamento, um dos benefícios de se ter um relacio­namento pactuai com Deus é que Ele estará continuamente se revelando àqueles que lhe obedecem os mandamentos e preceitos contidos na aliança (Ez 20.20; 28.26; 34.30; 39.22, 28; Jl 3.17).
O homem, desde o princípio, vem procurando conhecer o seu Criador. Num dos períodos mais antigos da história bíblica, Zofar pergunta a se essa busca daria algum resulta­do: "Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chega­rás à perfeição do Todo-poderoso?" (Jó 11.7). Eliú acrescen­ta: "Eis que Deus é grande, e nós o não compreendemos, e o número dos seus anos não se pode calcular" (Jó 36.26). Se temos algum conhecimento de Deus é porque Ele optou por se nos revelar. Mas este conhecimento que agora temos, embora confessadamente limitado, é mui glorioso e consti­tui-se na base suficiente de nossa fé.
Eterno
Medimos a nossa existência pelo tempo: o passado, o presente e o futuro. Mas Deus não está limitado pelo tempo, e nem por isso deixou de se revelar dentro de nosso ponto de referência - o tempo, a fim de tomarmos conhecimento dessa revelação. Os termos "eterno", "perpétuo" e "para sempre", são freqüentemente empregados pelos tradutores da Bíblia na tentativa de captar o sentido das expressões hebraicas e gregas que colocam a Deus dentro de nossa realidade tempo­ral e finita.10 Ele existia antes da criação: "Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus" (SI 90.2).
Ainda que vejamos o tempo como uma forma limitada de medição, a plena compreensão da eternidade está além de nosso alcance. Todavia, podemos meditar sobre o aspecto duradouro e intemporal de Deus. E isto nos levará a adorá-lo como o Deus pessoal que estendeu uma "ponte" sobre o abismo que separava a sua essência - infinita e ilimitada, da nossa - finita e limitada. "Porque assim diz o Alto e o Subli­me, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivi­ficar o coração dos contritos" (Is 57.15).
Portanto, na impossibilidade de se entender a relação entre o tempo e a eternidade, confessemos: "Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém" (1 Tm 1.17; cf. Nm 23.19; SI 33.11; 102.27; Is 57.15).
Onipotente
Um antigo questionamento filosófico, indaga: "Deus é capaz de criar uma rocha tão grande que Ele não possa mover? Se Ele não consegue movê-la, logo, Ele não é todo-poderoso. Se Ele não é capaz de criar uma rocha tão grande assim, isso comprova que Ele também não é todo-poderoso". Essa falácia da Lógica simplesmente brinca com as palavras e desconsidera o fato de que o poder de Deus está relacionado com os seus propósitos.
A pergunta mais honesta seria: Deus é poderoso para fazer tudo quanto pretende, e que esteja de acordo com o seu propósito? De acordo com os seus decretos, Ele demonstra que realmente tem a capacidade de realizar tudo quanto desejar: "Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?" (Is 14.27). O poder ilimitado do único e verdadeiro Deus jamais será resistido, impedido ou anulado pelo ser humano (2 Cr 20.6; SI 147.5; Is 43.13; Dn 4.35).
Através de sua revelação, Deus demonstrou que a sua grande prioridade é chamar, formar e transformar um povo para si mesmo. Isto pode ser visto na vida de Sara que, mesmo avançada em idade, Deus lhe concedeu a bênção da maternidade - conforme Ele mesmo o disse: "Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR?" (Gn 18.14; cf. Jr 32.17) - e na vida da jovem virgem Maria (Mt 1.20-25). O propósito sublime de Deus, contudo, foi realizado quando ressuscitou a Jesus dentro os mortos: "E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressusci-tando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus" (Ef 1.19,20).
Os discípulos, após uma declaração enfática de Jesus, meditaram sobre a impossibilidade de um camelo passar pelo fundo de uma agulha de costura (Mc 10.25-27). A grande lição aqui é a impossibilidade de as pessoas se salvarem a si mesmas. No entanto, isto além de ser possível para Deus, está dentro do seu propósito. Por isso, a obra de salvação é de domínio exclusivo do Senhor. Podemos exaltá-lo, não somente porque Ele é onipotente, mas também porque os seus propósitos são grandiosos, e o seu grande poder é utiliza­do por Ele no cumprimento da sua vontade.
Onipresente
Nos dias do Antigo Testamento, as nações ao redor de Israel serviam a deuses regionais, ou nacionais, cujo poder limitava-se à localidade e ao ritual. Na maioria dos casos, os devotos achavam que tais deidades tinham poder somente nos domínios habitados pelo povo que lhes prestava culto. Embora o Senhor se apresentasse a Israel como aquEle que manifestava a sua presença somente no Santo dos Santos do tabernáculo, e posteriormente no do Templo construído por Salomão, não contradizia a sua onipresença, por ser isso uma concessão sua às limitações do entendimento humano. O próprio Salomão reconheceu esse fato: "Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado" (1 Rs 8.27).
Os seres humanos temos a nossa existência limitada às dimensões físicas deste universo. Não há absolutamente lu­gar algum para onde possamos fugir da presença de Deus: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da rua face? Se subir aos céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (SI 139.7-10; cf. Jr 23.23,24). A natureza espiritual de Deus permite seja Ele onipresente e, ao mesmo tempo, esteja mui próximo de nós (At 17.27,28).
Onisciente
"E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hb 4.13). Deus conhece todos os nossos pensamentos e intenções (SI 139.1-4). Ele não se cansa na sua atividade de discerni-los (Is 40.28). O conheci­mento divino não se acha limitado por nosso modo de entender o futuro, pois Ele conhece o fim de um determina­do acontecimento antes mesmo deste ter início (Is 46.10).
Não podemos adentrar o conhecimento e a sabedoria de Deus (Rm 11.33). Por isso, é difícil compreendermos total­mente como Ele pode conhecer previamente os eventos ocasionados por nosso livre-arbítrio. Isso às vezes põe-nos diante não de uma contradição, mas de um paradoxo. As Escrituras não nos oferecem informações suficientes para resolvermos esse paradoxo. Colocam-nos, porém, à nossa disposição aquilo de que precisamos para que, com a ajuda do Espírito Santo, possamos tomar decisões que estejam em conformidade com a vontade divina.

Sábio
No mundo antigo, o conceito de sabedoria estava, quase sempre, relacionado ao campo da teoria e do debate. A
Bíblia, porém, coloca a sabedoria no âmbito da prática e, mais uma vez, nosso modelo para esse tipo de sabedoria é Deus. A "sabedoria" (hb. hochmah) reúne o conhecimento da verdade com a experiência do cotidiano. A sabedoria como conhecimento pode capacitar a pessoa a encher sua mente com uma enorme quantidade de fatos, mas sem qual­quer entendimento do seu significado ou aplicação. A verda­deira sabedoria, porém, orienta.
O conhecimento que Deus possui dá-lhe o discernimento de tudo quanto existe e que poderá vir a existir. Tendo em vista o fato de que Deus existe por si mesmo, seus conheci­mentos estão além de nossa simples imaginação; são ilimita­dos (SI 147.5). Ele aplica com sabedoria o seu conhecimen­to. Todas as obras das suas mãos são feitas pela sua grande sabedoria (SI 104.24), e assim Ele pode tirar ou colocar reis, mudar os tempos e estações, conforme lhe parecer bem (Dn 2.21).
Deus deseja que participemos de sua sabedoria e de seu conhecimento a fim de podermos conhecer os seus planos a nosso respeito, para podermos viver no centro de sua vonta­de (Cl 2.2,3).

Os Atributos Morais de Deus

Fiel
Os deuses das religiões do Oriente Próximo eram volú­veis e caprichosos. A grande exceção era o Deus de Israel. Ele é fiel na sua natureza e nas suas ações. A palavra hebrai­ca amen, "verdadeiramente", é derivada de uma das mais notáveis descrições do caráter de Deus, que reflete a sua certeza e fidedignidade: "Exaltar-te-ei e louvarei o teu nome, porque fizeste maravilhas; os teus conselhos antigos são ver­dade e firmeza ['emunah 'omen - lit. 'fidelidade de confiabilidade']" (Is 25.1).
Embora usemos a palavra "amém" para expressar nossa certeza quanto ao fato de Deus responder-nos às orações, as ocorrências na Bíblia de palavras que se baseiam em amen abrangem uma gama ainda mais ampla das manifestações do poder e da fidelidade de Deus. O servo de Abraão atribuiu sua procura bem-sucedida de uma noiva para o jovem Isaque à natureza fiel de Deus (Gn 24.27). As palavras "benignida­de" e "verdade" (hb. 'emeth e 'emunah) são, apropriada­mente, extensões de um único conceito hebraico que se pintam na descrição da natureza divina.
O Senhor comprova a sua fidelidade ao cumprir as suas promessas “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamen­tos" (Dt 7.9). Josué, já no fim de sua vida, declarou ao povo de Israel que o SENHOR nunca lhe faltara, nem sequer numa única promessa (Js 23.14). O salmista confessou: "tu confirmarás a tua fidelidade até nos céus" (SI 89.2).
Deus se revela constante no seu desejo de ter comunhão conosco, de guiar e proteger-nos. Se lhe estivermos submis­sos, nem mesmo o pecado e a iniquidade terão poder sobre nossas vidas: "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade" (Lm 3.22,23).
Pelo fato de Deus ser fiel, seria impossível pensar que Ele pudesse abandonar os seus filhos, quando estes estiverem passando por tentações ou provações (1 Co 10.13). "Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?" (Nm 23.19). Deus permanece estável quanto à sua natureza, ao passo que se mostra flexí­vel nas suas ações. 12 Quando Deus faz uma aliança com alguém, a sua promessa é um selo e garantia suficiente de sua imutável natureza e propósitos: "Pelo que, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu con­selho aos herdeiros da promessa, se interpôs com jura­mento" (Hb 6.17). Deus jamais muda seus propósitos, pois se o fizesse, certamente estaria contradizendo o seu próprio caráter. Paulo faz um contraste entre a natureza humana e a divina, quando escreve sobre a glória que se segue após o sofrimento de Cristo: "Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo" (2 Tm 2.13). A fidedignidade de Deus é absoluta por causa da­quilo que Ele é: fiel e verdadeiro (Dt 32.4; SI 89.8; 1 Ts 5.23,24; Hb 10.23; 1 Jo 1.9).
Verdadeiro
"Deus não é homem, para que minta" (Nm 23.19). A veracidade de Deus forma um contraste com a desonestida­de do ser humano. Deus é perfeitamente fiel às suas promes­sas e aos seus mandamentos (SI 33.4; 119.151). Sua integri­dade moral é a sua característica pessoal permanente (SI 119.160). A veracidade estável e permanente do Senhor é o meio através do qual somos santificados, porque a verdade proclamada tornou-se a Verdade Encarnada: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17). Nossa esperança depende diretamente da garantia de que tudo quanto Deus nos revelou é a mais absoluta verdade. Tudo quanto Ele fez até agora, no que se refere ao cumprimento de suas promessas, é a garantia definitiva de que Ele cumprirá tudo o que prometeu (Jo 14.6; Tt 1.1).

Bom
Deus está, de acordo com sua natureza, disposto a agir com grande generosidade para com a sua criação. Durante os dias da criação, o Senhor examinava periodicamente a sua obra, e declarava ser ela boa, pois lhe agradava e era apropriada aos seus propósitos (Gn 1.4,10,12,18,21,25,31). O mesmo adjetivo é usado para descrever o caráter moral de Deus: "Porque o SENHOR é bom; e eterna, a sua misericór­dia" (SI 100.5). Nesse contexto, a expressão transmite muito bem a idéia original de agradável ou plenamente satisfatória, mas também vai além disso, e ilustra a graça que é essencial na natureza de Deus: "Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande misericórdia. O SENHOR é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras" (SI 145.8,9; ver também Lm 3.25). Essa faceta da natureza divina é manifestada na sua disposição de prover todas as nossas necessidades, quer materiais (a chuva e as colheitas, At 14.17), quer espirituais (a alegria, At 14.17; a sabedoria, Tg 1.5). Esse aspecto também se contrasta com as crenças antigas, segundo as quais todos os demais deuses eram imprevisíveis, malévolos, dentre outras coisas, menos bons.
Podemos seguir o modelo de nosso generoso e compassi­vo Deus, pois "toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1.17).
Paciente
Num mundo cheio de atitudes retaliatórias, quase sem­pre tomadas sem qualquer reflexão, nosso "Senhor é longânimo e grande em beneficência, que perdoa a iniqüidade e a trans­gressão" (Nm 14-18). "Longânimo" significa "tardio em irar-se", demonstrando que Deus é paciente e cheio de compai­xão e graça (SI 86.15). Sua longanimidade visa o nosso benefício, e devemos reconhecer que é para levar-nos ao arrependimento (Rm 2.4; 9.22,23).
Vivemos o grande dilema: por um lado desejamos que Jesus cumpra o mais rápido possível as suas promessas relati­vas à sua segunda vinda; por outro, desejamos que ele a retarde um pouco mais, para que mais pessoas possam aceitá-lo como Salvador e Senhor. "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" (2 Pe 3.9).
O Senhor castigará os pecadores na sua vinda, mas, por enquanto, utiliza-se de sua longanimidade para alcançar e salvar o maior número de pessoas possível (2 Pe 3.15).
Amor
Quando nos tornamos cristãos, o primeiro texto da Bí­blia a ser memorizado é João 3.16, o qual recitamos com vigor e entusiasmo, muitas vezes enfatizando a expressão: "Deus amou o mundo de tal maneira". Depois, com um conhecimento mais profundo do texto, descobrimos que a ênfase recai não ao caráter quantitativo do amor de Deus, mas ao qualitativo. E o fato mais importante não é que Deus nos tenha amado a ponto de dar o seu Filho, mas que Ele nos haja amado de maneira tão sacrificial. 
Deus se revelou como alguém que expressa um tipo específico de amor, o qual é demonstrado por uma dádiva sacrificial. João o define desta forma: "Nisto está a caridade: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4.10).
Deus também demonstra o seu amor ao nos dar repouso, e proteção (Dt 33.12), que devemos sempre lembrar em nossas preces de ações de graças (SI 42.8; 63.3; Jr 31.3). No entanto, a forma suprema do amor de Deus, sua maior de­monstração de amor, acha-se na cruz de Cristo (Rm 5.8). Ele quer que estejamos conscientes de que seu amor faz parte integrante de nossa vida em Cristo: "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Ef 2.4,5).
O caminho mais excelente, o caminho do amor, segundo o qual somos exortados a andar, identifica as características que Deus nos revelou na sua Pessoa e na sua obra (1 Co 12.31-13.13). Se seguirmos o seu exemplo, produziremos o fruto do amor, e andaremos de tal maneira que os dons (charísmata) do Espírito Santo cumprirão em nós os seus propósitos.
Gracioso e Misericordioso
Os termos "graça" e "misericórdia" representam dois as­pectos do caráter e da atividade de Deus que, embora distin­tos, são correlatos entre si. Experimentar a graça divina é receber uma dádiva que não podemos adquirir por conta própria, e da qual não somos merecedores. Experimentar sua misericóridia significa ser preservado do castigo a que se faz jus. Deus é o juiz supremo que detêm o poder para determi­nar, em última análise, a punição a quem merece. Quando Ele nos perdoa o pecado e a culpa, experimentamos a sua misericórdia. Quando recebemos o dom da vida, experimen­tamos a sua graça. A misericórdia divina remove o castigo, ao passo que a sua graça coloca algo positivo no lugar do negativo. Embora mereçamos o castigo, Ele nos dá a paz e restaura-nos integralmente (Is 53.5; Tt 2.11; 3.5).
"Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade" (SI 103.8). Posto que precisemos ser trazidos da morte para a vida, esses aspectos de Deus são amiúde mencionados juntamente nas Escrituras com a fina­lidade de demonstrar seu inter-relacionamento (Ef 2.4,5; cf. Ne 9.17; Rm 9.16; Ef 1.6).

Santo
"Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11.44). Fomos chamados para ser diferentes, porque o Se­nhor é diferente. Deus se revela como "santo" (hb. qadosh), e o aspecto essencial de qadosh é a separação daquilo que é mundano, profano ou corriqueiro, e a separação (ou dedica­ção) para seus propósitos. Os mandamentos dados a Israel exigiam fosse mantida a nítida distinção entre as esferas do comum e do sagrado (Lv 10.10). Tal distinção tinha seu impacto sobre o tempo e o espaço (o sábado e o santuário), mas visava o indivíduo do modo mais relevante. Tendo em vista que Deus é diferente de qualquer outro ser, todos os que lhe estão submissos devem também estar separados - no coração, nas intenções, na devoção e no caráter - para Ele, que é verdadeiramente santo (Ex 15.11).
Deus, por sua própria natureza, está separado do pecado e da humanidade pecaminosa. A razão por que nós, seres humanos, somos incapazes de nos aproximar de Deus, em nosso estado de pecado, é porque não somos santos. Na Bíblia, a questão da "impureza" não está relacionada à higie­ne, mas à santidade (Is 6.5). As marcas da impureza compre­endem: algo quebrado ou defeituoso (ver Is 30.13,14), o pecado, a violação da vontade de Deus, a rebelião e a perma­nência no pecado. Posto que Deus é íntegro e reto, nossa consagração envolve tanto a separação do pecado quanto a obediência a Ele.
A santidade é o caráter e a atividade de Deus, conforme revelada no título Yahweh meqaddesh, "o SENHOR que vos santifica" (Lv 20.8). A santidade de Deus não deve tornar-se mero assunto de meditação, mas um convite (1 Pe 1.15) para que participemos de sua justiça e o adoremos juntamen­te com as multidões. Os quatro seres viventes no Apocalipse "não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir" (Ap 4.8; cf. SI 22.3).
Reto e Justo
O Deus Santo é distinto e separado da humanidade pecaminosa. Mesmo assim, Ele permite que nos aproximemos de sua presença. Essa concessão acha-se baseada no fato B de que Ele julga o seu povo com retidão e com justiça (SI 72.2). Ambos os conceitos são freqüentemente combinados entre si para ilustrar a maneira como Deus se apresenta a nós.
Na Bíblia, a retidão é vista segundo um padrão ético ou moral. A "retidão" (hb. tsedaqah)14 de Deus é tanto o seu caráter quando o modo que Ele opta por agir. Deus é reto no seu caráter ético e moral e, portanto, serve como padrão para determinar qual a nossa posição em relação a Ele.
Semelhante a essa faceta de Deus é a sua justiça (hb. mishpat), através da qual Ele exerce o seu governo. Muitos sistemas democráticos modernos de governo separam os de­veres do Estado em várias ramificações, que se equilibram mutuamente e que prestam contas umas às outras (o poder legislativo para elaborar e aprovar leis; o poder executivo para obrigar o cumprimento das leis e para manter a ordem; o poder judiciário para garantir a consistência das leis e para penalizar os transgressores). O mishpat de Deus coloca todas essas funções dentro do caráter e do domínio do único Deus soberano (SI 89.14). Nossas Bíblias freqüentemente tradu­zem esse termo hebraico por juízo, que enfatiza apenas um dos múltiplos aspectos da justiça (Is 61.8; Jr 9.24; 10.24; Am 5.24). A justiça de Deus inclui a penalidade do juízo, mas subordina essa atividade à obra global de estabelecer a sua justiça amorosa (Dt 7.9,10).15
O padrão com que Ele se apresenta a nós é perfeito e reto (Dt 32.4). Por isso, não podemos, por nós mesmos, ser apro­vados por esse padrão, que Deus usa para avaliar-nos, pois todos nós ficamos em falta (Rm 3.23). E "tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressusci-tando-o dos mortos" (At 17.31). Por outro lado, Deus tam­bém se preocupa com as suas criaturas, preservando-as (SI 36.5-7), além de lhes proporcionar a esperança para o futu­ro. A encarnação de Cristo incluía todas as qualidades e atividades da retidão e da justiça. Sua expiação vicária, em seguida, transmitiu-nos essa mesma retidão e justiça (Rm 3.25,26) a fim de comparecermos justificados diante do justo Juiz (2 Co 5.21; 2 Pe 1.1).

            Os Nomes de Deus
Em nossa cultura, os pais usualmente escolhem nomes para seus filhos, tendo por base a estética ou a eufonia. Nos tempos bíblicos, porém, dar nomes era uma ocasião de con­siderável relevância. O nome era uma expressão do caráter, natureza ou futuro do indivíduo (ou pelo menos, uma decla­ração do que se esperava de quem o recebeu).16 Nas Escritu­ras, Deus demonstrou que o seu nome não era mera etiqueta para distinguí-lo das demais deidades das culturas em derre­dor. Pelo contrário: cada nome que Ele usa e aceita revela alguma faceta do seu caráter, natureza, vontade ou autorida­de.
Pelo fato de o nome representar a Pessoa e a presença de Deus, "invocar o nome do Senhor" veio a ser um meio de entrar em íntima comunhão com Deus. Esse era um tema comum às religiões do Oriente Médio antigo. As religiões em derredor, porém, tentavam controlar as suas deidades medi­ante uma manipulação de nomes, ao passo que os israelitas eram proibidos de usar o nome de seu Deus em vão ou com maus propósitos (Ex 20.7). Pelo contrário, deviam manter um relacionamento puro com o seu nome, como estabeleci­do por Deus, pois isto trazia consigo a providência e a salva­ção.
Nomes do Antigo Testamento
A palavra original para a deidade que se achava em todos os idiomas semíticos era 'El, que possivelmente tenha se derivado de um termo que significava poder ou preeminên­cia. Entretanto, é incerta a origem exata da palavra. 17 Posto que era usada por várias religiões e culturas diferentes, em comum, pode ser classificada como um termo genérico para "Deus" ou "deus" (o que depende do contexto, pois as Escri­turas hebraicas não fazem distinção entre letras maiúsculas ou minúsculas).
Para Israel, havia um só Deus verdadeiro; logo, o empre­go do nome genérico por outras religiões era vão e vazio, pois Israel tinha de crer em 'El 'Elohe Yisra'el: "Deus, o Deus de Israel" (ou, possivelmente: "Poderoso é o Deus de Israel") - Gênesis 33.20.
Na Bíblia, esse nome forma muitos termos descritivos compostos, tais como: "Deus  [ 'El] da glória" (SI 29.3), "Deus ['El] do conhecimento" (1 Sm 2.3), "Deus ['El] da salvação" (Is 12.2), "Deus ['El] da vingança" (SI 94.1) e "Deus ['El] grande e terrível" (Ne 1.5; 4.14; 9.32; Dn 9.4).
A forma plural, 'elohim, acha-se quase 3.000 vezes no Antigo Testamento, e pelo menos 2.300 dessas referências falam do Deus de Israel (Gn 1.1; SI 68.1). O termo 'elohim, no entanto, tinha uma gama suficientemente ampla de signi­ficados, podendo referir-se também aos ídolos (Ex 34.17), aos juízes (Êx 22.8), aos anjos (SI 8.5) ou aos deuses de outras nações (Is 36.18; Jr 5.7). A forma plural, ao ser aplicada ao Deus de Israel, pode ser entendida18 como a maneira de significar que a plenitude da deidade acha-se dentro do único Deus verdadeiro, com todos os atributos, virtudes e poderes. 
O sinônimo de 'Elohim é sua forma singular, Eloah, que também é usualmente traduzida por "Deus". Um exame dos trechos bíblicos onde o nome ocorre, sugere que este assume um significado adicional: reflete a capacidade de Deus em proteger ou destruir (o que depende do contexto específico). E usado em paralelo com "rocha" - refúgio (Dt 32.15; SI 18.31; Is 44.8). Os que se refugiam nEle descobrem que 'Eloah é um escudo de proteção (Pv 30.5), mas um terror para os pecadores: "Ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus ['Eloah]; para que vos não faça em pedaços, sem haver quem vos livre" (SI 50.22; ver também 114.7; 139.19). Esse nome, portanto, é um consolo para os que se humilham e nEle buscam refúgio, mas castiga os que praticam a ini­qüidade.
O nome é um desafio para as pessoas decidirem qual aspecto de Deus querem experimentar, porque "bem-aven­turado é o homem a quem Deus ['Eloah] castiga" (Jó 5.17). acabou reverenciando Deus na sua majestade, arrepen-dendo-se das palavras inúteis que havia proferido (37.23; 42.6).
Deus freqüentemente revelava uma faceta a mais do seu caráter, fornecendo frases ou locuções descritivas em cone­xão com seus vários nomes. Ao renovar a sua aliança com Abrão [Abraão], identificou-se como 'ElShaddai (Gn 17.1).21
Nalgumas passagens bíblicas, shaddai parece transmitir a idéia de alguém que tem o poder de devastar e destruir. No Salmo 68.14, o Shaddai "espalhou os reis"; idéia semelhante é apresentada pelo profeta Isaías: "Uivai, porque o dia do SENHOR está perto; vem do Todo-poderoso [shaddai] como assolação" (Is 13.6). Noutros textos, porém, a ênfase parece recair em Deus como aquele que é auto-suficiente em tudo: "O Deus Todo-poderoso ['El Shaddai] me apareceu em Luz, na terra de Canaã, e me abençoou, e me disse: Eis que te farei frutificar e multiplicar" (Gn 48.3,4; ver também 49.24). Os eruditos usualmente optam por traduzir 'El Shaddai como "Todo-poderoso" ou "Onipotente", reconhecendo a capacidade de Deus em abençoar ou castigar, conforme a situação, posto que ambas as características encontram-se incluídas no caráter e no poder que é peculiar a esse nome.
Outras aposições ajudam a revelar o caráter de Deus. Sua natureza exaltada é demonstrada em 'El 'Elyon, "Deus Altíssimo" (Gn 14.22; Nm 24.16;Dt 32.8).22 A natureza eterna de Deus é representada por 'El 'Olam, "perpétuo" ou "eterno"; quando Abraão se estabeleceu em Berseba, "invo­cou lá o nome do SENHOR, Deus eterno" (Gn 21.33; cf. SI 90.2). Todos os que vivem sob o domínio do pecado e que precisam da libertação, invocam 'Elohim yish'enu, "Deus nosso Salvador" (1 Cr 16.35; SI 65.5; 68.19; 79.9).
O profeta Isaías foi grandemente usado pelo Senhor para falar aos seus contemporâneos tanto palavras de juízo como de consolação. Tais palavras não resultavam de especula­ções, nem de análise feita por alguém sobre a condição social do povo. O profeta ouviu o recado do Deus que se revelou. Seu comissionamento, em Isaías 6, pode ajudar-nos a conhe­cer um pouco mais sobre sua Pessoa. Ali, Deus se revelou exaltado num trono real. O comprimento das suas vestes confirmava a sua majestade. Os serafins declaravam a sua santidade23 e pronunciavam o nome pessoal de Deus: Yahweh.
O nome Yahweh aparece 6.828 vezes em 5.790 versí­culos no Antigo Testamento,24 e é a designação mais freqüente de Deus na Bíblia. E provável que esse nome se derive do verbo hebraico que significa "tornar-se", "acon­tecer", "estar presente". Quando Moisés tinha diante de si o dilema de como convencer os escravos hebreus a acolhê-lo como mensageiro da parte de Deus, quis saber o nome do Senhor. A forma que sua pergunta assume é realmente uma busca da descrição do caráter, e não de um título (Ex 3.11-15). Moisés não estava perguntando: "Como te chamarei?" mas: "Qual é o teu caráter; como és tu?" Deus respondeu: "EU SOU O QUE SOU" ou "SE­REI O QUE SEREI" (v. 14). Em hebraico 'ehyeh 'asher 'ehyeh indica a existência em ação.26
Na frase seguinte, Deus se identifica como o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, que doravante será conhecido como YHWH.  Essa expressão hebraica, que consiste de quatro consoantes, é conhecida como o Tetragrama, e é usualmente traduzida nas nossas Bíblia como SENHOR (em letras maiúsculas). O senhorio, porém, não é realmente um aspecto essencial desse termo. Pelo contrário: é uma decla­ração de que Deus é alguém que tem existência em si mesmo (o EU SOU ou EU SEREI), que faz com que todas as coisas venham à existência, e que optou por escolher um povo para si, estando fielmente ao seu lado.
Nos tempos do Antigo Testamento, esse nome era pronunciado livremente pelos israelitas. O terceiro man­damento (Ex 20.7) era claro: "Não tomarás o nome do SENHOR (YHWH), teu Deus, em vão". Este nome não podia ser citado levianamente, visando prestígio ou van­tagens imerecidas.
No decorrer dos séculos, porém, os escribas e rabinos desenvolveram uma estratégia para sustentar tal proibição. Inicialmente, os escribas escreviam a palavra hebraica 'adonai, "meu Senhor", "meu Mestre", na margem do rolo, todas as vezes que a palavra YHWH aparecia no texto inspirado das Escrituras. Sinais avisavam que se devia ler 'adonai em vez do Nome Santo que se encontrava no texto bíblico. A idéia era que se ninguém pronunciasse o Nome Santo, este não poderia ser tomado em vão. Mas esse método não era infalí­vel, e alguns leitores pronunciavam o Nome (sem querer) ao lerem as Escrituras publicamente na sinagoga. Mas a grande reverência pelo texto bíblico impedia que os escribas e rabi­nos chegassem ao ponto de retirar deste o nome divino, YHWH, e substituí-lo por termos menos importantes, como é o caso de 'adonai.
Finalmente, os rabinos concordaram em colocar vogais no texto hebraico (uma vez que o texto inspirado consistia, originalmente, só de consoantes). Tiraram as vogais de 'adonai e as modificaram para ajustar-se às exigências gramaticais de YHWH, encaixando-as entre as consoantes do Nome Divi­no. E, assim, foi criada a forma híbrida YeHoWaH. As vogais serviriam, então, para lembrar o leitor a pronunciar 'Adonai. Algumas Bíblias transliteram essa forma híbrida por "Jehovah" (aportuguesado "Jeová"), criando uma palavra composta com as consoantes de um nome pessoal e as vogais de um título que nunca teve existência real na língua hebraica.
Já nos tempos do Novo Testamento, o costume de subs­tituir o Nome inefável por "Senhor" foi aceita por seus escritores (e nisto foram seguidos em muitas traduções mo­dernas da Bíblia). Assim é aceitável. Mas devemos ensinar e pregar que o caráter do "Senhor/Yahweh/Eu Sou/Eu Serei" é a sua presença ativa e fiel. Se "Yahweh" for a pronúncia original, o significado gramatical seria "aquele que continua­mente causa a existência". "Porque todos os povos andarão, cada um em nome do seu deus; mas nós andaremos no nome do SENHOR [Yahweh], nosso Deus, eternamente e para sempre" (Mq 4-5).
Os serafins, na visão de Isaías, combinam o nome pessoal do Deus de Israel com o substantivo descritivo tseva'oth, "exércitos" ou "hostes". Essa combinação entre Yahweh e tseva'oth ocorre em 248 versículos da Bíblia (62 vezes em Isaías, 77 em Jeremias, 53 em Zacarias) e é usualmente traduzida por "SENHOR dos Exércitos" (Jr 19.3; Zc 3.9,10). Trata-se da afirmação de que Yahweh (aportuguesado Javé) era o verdadeiro líder dos exércitos de Israel, bem como das hostes dos céus, inclusive os anjos e as estrelas, reinando universalmente como Supremo Comandante do universo inteiro. A forma como é empregada a expressão em Isaías 6.3, contrapõe-se ao postulado das nações em derredor de que cada deus regional era o deus guerreiro que mantinha domínio exclusivo naquele país. Mesmo se Israel fosse derro­tado, não seria porque Javé era mais fraco do que outro deus guerreiro, mas porque Javé estava usando os exércitos dos países vizinhos (que Ele mesmo criara) para castigar o seu povo impenitente.
No Oriente Médio antigo, o rei também era o líder de, todas as operações militares. Por isso, esse título, Yahweh Tseva'oth, é outra maneira de exaltar a realeza de Deus: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entra­das eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos [Yahweh Tseva'oth], ele é o Rei da Glória" (SI 24.9,10).
Os serafins, na visão de Isaías, também confessam que "toda a terra está cheia da sua glória". Esta glória (hb. kavodti) contém o conceito de posição privilegiada. O uso do vocábulo "glória", neste contexto, indica alguém que possui uma posição de grande destaque, publicamente reco­nhecida. Essa "glória" pertence a quem é honrado, impres­sionante e digno de respeito.
A revelação que Deus faz de si mesmo está relacionada ao seu propósito de habitar entre os seres humanos. Ele deseja que a sua realidade e o seu esplendor sejam devida­mente conhecidos. Mas isso é possível somente quando as pessoas compreedem a qualidade indelével de sua santidade (inclusive a importância de cada um dos seus atributos), e se revestem de fé e de obediência a fim de que essa faceta do caráter divino seja nelas manifestada. Deus não se manifesta de modo físico, porém muitos cristãos podem testemunhar da sensação subjetiva e espiritual de haverem experimenta­do a presença poderosa do Senhor. E exatamente essa a experiência de Isaías. Somente Deus é digno de toda a gran­deza, da glória, do reino e do poder. Mas não é somente essa única reputação divina que enche a terra; a própria realida­de de sua presença e a plena posição de destaque de sua glória acham-se por toda a parte (cf.2 Co 4.17).
O desejo de Deus é que todas as pessoas reconheçam expontaneamente a sua glória. Ele habitou progressiva­mente em glória entre os seres humanos; primeiramente, na coluna de fogo e de nuvem, no Tabernáculo, no Tem­plo em Jerusalém, e posteriormente, na carne, como seu Filho, Jesus de Nazaré. E, agora, em nós, pelo seu Espírito Santo. "Vimos a sua glória, como a glória do Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). Hoje, temos a certeza de que todos somos templo do Espírito Santo de Deus (1 Co 3.16,17).
O nome "Eu sou/Eu serei", em conjunção com determi­nados termos descritivos, serve frequentemente como a con­fissão de fé que revela ainda mais a natureza de Deus. Quan­do Isaque perguntou ao seu pai: "Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?", Abraão garantiu ao seu filho que Deus o proveria [yireh] (Gn 22.7,8). Depois de sacrificar o carneiro substituto que ficara preso entre os arbustros, Abraão chamou aquele local de Yahweh yireh, "o SENHOR proverá" (v. 14).
A fé de Abraão, contudo, ía além de uma simples confis­são de que Deus apenas provê o material. Para o patriarca, Deus era aquEle que estava pessoalmente envolvido e dis­posto a dar uma solução ao problema. E este foi resolvido ao prover Deus um substituto para Isaque, como oferta sacrificial aceitável. Depois do acontecido, podemos testificar que o Senhor realmente provê. Mas Abraão, mesmo durante a subida ao monte, estava confiante de que Deus iria prover uma solução, pois tinha assegurado aos servos que tanto ele quanto Isaque voltariam. A fé de Abraão permitiu que ele se lançasse por completo aos cuidados de Deus. Pois acreditava que o Senhor era capaz de dar uma solução para todo e qualquer problema, segundo a sua sabedoria e seus propósi­tos. Mesmo que isso envolvesse o sacrifício de seu filho, Deus o ressuscitaria dentre os mortos (ver Hb 11.17-19).
O nome sagrado de Deus também é empregado em com­binação com vários outros termos usados para descrever muitas facetas do caráter, da natureza, das promessas e das atividades do Senhor. Yahweh Shammah, "o Senhor Está Ali", serve como promessa da presença e do poder de Deus na cidade profetizada por Ezequiel (Ez 48.35).
Yahweh 'osenu, "o Senhor nosso Criador", é uma decla­ração da sua capacidade e disposição para lançar mão das coisas que existem e torná-las úteis (SI 95.6).
Os hebreus, no deserto, experimentariam o cuidado de Yahweh roph'ekha, "o Senhor teu médico" ou "o Senhor que te sara", se escutassem e obedecessem aos seus manda­mentos (Ex 15.26).32 Desta maneira, conseguiriam evitar as pragas e as enfermidades que Deus enviara sobre o Egito. Nosso Senhor, pela sua natureza, é quem cura aqueles que se submetem ao seu poder e à sua vontade.
Após ter comandado com êxito total a batalha contra os amalequitas, Moisés levantou um altar dedicado a Yahweh nissi, "O Senhor é a minha bandeira" (Ex 17.15). A bandeira servia de baliza para o reagrupamento durante a batalha ou em qualquer outra atividade coletiva. Essa função da ban­deira aparece simbolicamente na serpente de bronze erguida numa haste, e no Salvador, que serviria de bandeira para os povos (Nm 21.8,9; Is 62.10,11; Jo 3.14; Fp 2.9).
Quando Deus falou a Gideão, este edificou um altar a Yahweh Shalom: "O Senhor é Paz" (Jz 6.23). A essência do Deus de paz é inteireza, integridade, harmonia, realização, no sentido de lançar mão daquilo que é incompleto ou quebrado e deixá-lo completo mediante um ato soberano. Podemos enfrentar desafios difíceis, assim como aconteceu a Gideão ao confrontar os midianitas, sabendo que Deus nos outorga paz: essa é uma das maneiras de Ele manifestar a sua natureza.
O povo de Deus precisa de um protetor e provedor. E, assim, Deus se revelou como Yahweh ro'i, "o SENHOR é meu pastor" (SI 23.1). Todos os aspectos positivos do pastoreio no Oriente Médio antigo acham-se aplicados ao Senhor (guiar, alimentar, defender, cuidar, curar, treinar, corrigir e dispor-se a morrer pelas ovelhas, se necessário for).
Quando Jeremias profetizou a respeito do rei vindouro, o rebento justo de Davi, que Deus suscitaria, o nome pelo qual esse rei seria conhecido era Yahweh tsidkenu: "O Senhor justiça nossa" (Jr 23.6; ver também 33.16). E da natureza divina agir com justiça e juízo para que nos coloquemos diante dEle como justos. Deus torna-se a norma e o padrão para pautarmos a nossa vida. Pois se Ele fez de Cristo, "que não conheceu pecado", "pecado por nós" (2 Co 5.21), pode­mos, então, ser participantes de sua promessa que nos decla­ra justos. "Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e re­denção" (1 Co 1.30).
Uma das maneiras de Deus demonstrar o seu propósito em ter um relacionamento com o seu povo é mediante a sua descrição como "Pai". O conceito de Deus como Pai está muito mais desenvolvido no Novo que no Antigo Testa­mento, ocorrendo 65 vezes nos três primeiros Evangelhos, e mais de 100 vezes só no Evangelho de João. O Antigo Testamento identifica Deus como Pai somente 15 vezes (usualmente com relação à nação ou ao povo de Israel).
Os aspectos específicos da paternidade divina, sempre enfatizados, incluem a criação (Dt 32.6), a responsabilidade pela redenção (Is 63.16), a formação de uma nova persona­lidade (Is 64.8), a amizade familiar (Jr 3.4), o repassar a herança (Jr 3.19), a liderança (Jr 3.19), o prestar a honra (Ml 1.6) e estar disposto a castigar a transgressão (Ml 2.10,12). Deus também é visto como Pai de indivíduos específicos, especialmente dos reis Davi e Salomão. No tocante a eles, o Pai está disposto a castigar o erro (2 Sm 7.14), sem deixar de ser fiel no seu amor (1 Cr 17.13). Acima de tudo, Ele promete ser fiel para sempre, garantindo a sua proteção, como Pai, por toda a eternidade (1 Cr 22.10).
Nomes no Novo Testamento
O Novo Testamento oferece uma revelação muito mais clara do Deus Trino e Uno do que o Antigo Testamento. Deus é Pai (Jo 8.54; 20.17), Filho (Fp 2.5-7; Hb 1.8) e Espírito Santo (At 5.3,4; 1 Co 3.16). Grande parte dos nomes, títulos e atributos divinos encaixam-se mais apropri­adamente nas categorias de "Trindade", "Cristo" e "Espírito Santo". Por isso, os nomes de Deus serão tratados com mais profundidade nos capítulos específicos deste livro. O que se segue focalizará apenas os nomes e títulos que falam mais diretamente a respeito do único e verdadeiro Deus.
O termo "teologia" deriva-se da palavra grega theos. Os tradutores da Septuaginta adotaram-na como a palavra apro­priada para representar o vocábulo hebraico 'elohim e seus sinônimos correlatos. Os escritores do Novo Testamento seguiram a mesma orientação. Theos também era o termo genérico para os seres tidos como divinos. Na ilha de Malta, por exemplo, Paulo foi chamado deus por ter sobrevivido à mordida de uma víbora (At 28.6). O termo pode ser traduzi­do, de acordo com o contexto literário, por "deus", "deuses" ou "Deus", a exemplo do que acontece com o termo hebrai­co 'El (Mt 1.23; 1 Co 8.5; Gl 4.8). Mesmo assim, o emprego dessa palavra grega não faz a mínima concessão à existência de outros deuses, posto que o contexto literário não é idêntico ao contexto espiritual. Dentro da realidade espiritual, há, um só Ser Divino: "Sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro [theos], senão um só" (1 Co 8.4). Deus tem o direito exclusivo a esse termo, como revelação adicio­nal de si mesmo. Podemos dizer o mesmo a respeito do termo grego logos, "Verbo" ou "Palavra" Go 1.1,14).
O Antigo Testamento introduz o conceito figurativo de Deus como Pai; o Novo Testamento demonstra como esse relacionamento pode ser plenamente experimentado. Jesus fala frequentemente a respeito de Deus, utilizando termos que caracterizam intimidade. Nenhuma oração no Antigo Testamento dirige-se a Deus como "Pai". Jesus, porém, ao ensinar seus discípulos a orar, esperava deles que adotassem a postura de filhos, e dissessem: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome" (Mt 6.9). Nosso Deus é o "Pai" Todo-poderoso que se acha nos céus (Mt 26.53; Jo 10.29); e Ele utiliza seu poder para conservar, sustentar, chamar, amar, preservar, prover e glorificar (Jo 6.32; 8.54; 12.26; 14.21,23; 15.1; 16.23).
O apóstolo Paulo resumiu a sua própria teologia, focali­zando a nossa necessidade de favor e integridade imerecidos. Ele inicia a maioria de suas epístolas com essa declaração de invocação: "Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1.7; ver também 1 Co 1.3; 2 Co 1.2; Gl 1.3; etc).
Na filosofia grega, os seres divinos eram descritos como "motor imóvel", "a causa de toda a existência", "a existência pura", "a alma universal" e por outras expressões impessoais. Jesus seguia a forma da revelação do Antigo Testamento, e ensinava que Deus é pessoal. Embora Jesus falasse do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó (Mc 12.26); do Senhor (Mc 5.19; 12.29; Lc 20.37); do Senhor do céu e da terra (Mt 11. 25); do Senhor da seara (Mt 9.38); do único Deus (Jo 5.44); do Altíssimo (Lc 6.35); do Rei (Mt 5.35) - seu título predileto para Deus era "Pai", que no Novo Testamento é o grego pater (daí derivam as palavras "patriarca" e "paterno"). Surge uma exceção em Marcos 14.36, onde o termo aramaico 'abba, que Jesus usou para dirigir-se a Deus, foi conservado.
Paulo designou Deus como 'abba em duas ocasiões: "Por­que sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai [gr. Ho pater]" (Gl 4.6). "Não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai [gr. ho pater]. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.15,16). Isto é: na Igreja Primitiva, os cristãos judaicos estariam invocando Deus, dizendo: 'Abba, "O Pai!" e os cristãos gentios estariam exclamando: Ho Pater, "O Pai!" Ao mesmo tempo, o Espírito Santo estaria tornando real para eles que Deus é, de fato, o Pai de todos. A qualidade incomparável do termo acha-se no fato de que Jesus lhe atribuiu uma ternura incomum. Além do mais, caracteriza­va muito bem o seu próprio relacionamento com Deus, e também o tipo de relacionamento que Ele queria, em última análise, que os seus discípulos tivessem com o Pai.
A Natureza de Deus
O Deus onipotente não pode ser plenamente compreen­dido pelo ser humano, mas nem por isso deixou de se revelar de diversas maneiras e em várias ocasiões a fim de que o venhamos a conhecer. Deus não pode ser compreendido pela mera lógica humana, e nem sequer sua própria existên­cia pode ser comprovada desta maneira. Com isso, queremos dizer que não estamos de forma alguma diminuindo os seus atributos, fazendo uma declaração confessional das nossas limitações e da infinitude divina. Nosso modo de entender a Deus pode ser classificado em duas pressuposições primárias: (1) Deus existe; e (2) Ele se revelou a nós de modo adequado através da sua revelação inspirada. 
Não se pode explicar Deus, mas somente crer nEle. Po­demos basear a nossa doutrina sobre Deus nas pressuposi­ções já citadas, e nas evidências demonstradas nas Escritu­ras. Alguns textos bíblicos atribuem à pessoa de Deus quali­dades que os seres humanos não possuem, ao passo que outros textos o descrevem em termos de atributos morais que são compartilhados pelos seres humanos ainda que de forma limitada.
A natureza de Deus é identificada com mais frequência por aqueles atributos que não possuem analogia com o ser humano. Deus existe por si mesmo, sem depender de outro ser. Ele é a fonte originária da vida, tanto ao criá-la quanto ao sustentá-la. Deus é espírito; Ele não está confinado à existência material, e é imperceptível ao olho físico. Sua natureza não muda, permanece inalterável. Posto que o próprio Deus é o fundamento do tempo, Ele não pode ser limitado pelo tempo. Ele é eterno, sem começo nem fim. Deus está totalmente consistente dentro de si mesmo. O espaço não pode limitá-lo, pois Ele é onipresente. Deus também é onipotente, pois é poderoso para fazer tudo que esteja de acordo com a sua natureza e segundo os seus propósitos. Além disso, é onisciente; conhece efetivamente todas coisas - passadas, presentes e futuras. Em todos esses atributos, o cristão pode achar o consolo e a confirmação da fé, ao passo que o incrédulo é advertido e motivado a crer.
As evidências bíblicas dos atributos morais de Deus de­monstram características que também são encontradas no ser humano. Mas as nossas não passam de pálidos reflexos da magnífica glória demonstrada pelo Senhor. De grande im­portância, neste grupo, é a santidade de Deus, a sua mais completa perfeição e a sua exaltação sobre todas as criaturas. Nesta sua perfeição fundamental, estão incluídas a sua reti­dão, que resulta na decretação de leis; e a sua justiça, que resulta na sua execução. O carinho que Deus tem pelos seus filhos é expressado pelo seu amor sacrificial. O amor divino é abnegado, justo e eterno e tem iniciativa própria. Além disso, Ele demonstra benevolência ao sentir e manifestar afeição pela sua criação em geral. Ele demonstra misericór­dia ao dirigir sua bondade àqueles que passam necessidades e são surpreendidos por alguma desgraça, e ao suspender o castigo merecido pelo pecador arrependido. Ele também manifesta a sua graça na forma da bondade concedida aos que não têm o mínimo merecimento.
A sabedoria de Deus é vista nos seus propósitos e nos planos que Ele emprega para fazer cumprir tais propósitos. O exemplo primário da sabedoria divina, encarnada e atuan­te, é a Pessoa e a obra de Jesus. Outras expressões desta sabedoria incluem a paciência pela qual detém seu justo juízo contra os que vivem no pecado, e também a veracidade com que cumpre a sua Palavra, levando-nos a confiar nela e , nas suas ações. Jesus, o Messias de Deus, é a Verdade encar­nada. Finalmente, há a perfeição moral da fidelidade. Ele é totalmente fidedigno no cumprimento da sua aliança, confiável ao perdoar, e nunca falha nas suas promessas. Nas suas decisões, é inabalável. A linguagem figurada da rocha é freqüentemente usada para retratar a firmeza de Nosso Se­nhor e a proteção que Ele nos oferece.

As obras de Deus
Outro aspecto da doutrina de Deus que requer a nossa atenção é o das suas obras. Este aspecto pode ser dividido em: 1) seus decretos 2) sua providência e 3) conservação. Os decretos divinos são o seu plano eterno que, em virtude de suas características, faz parte de um só plano, que é imutável e eterno (Ef 3.11; Tg 1.17). São independentes e não podem ser condicionados de nenhuma maneira. (SI 135.6). Têm a ver com as ações de Deus, e não com a sua natureza (Rm 3.26). Dentro desses decretos, há as ações praticadas por Deus, pelas quais tem Ele responsabilidade soberana; e tam­bém as ações das quais Ele, embora permita que aconteçam, não é responsável.41 Baseado nessa distinção, torna-se possí­vel concluir que Deus nem é o autor do mal (embora seja o criador de todas criaturas subalternas), nem é a causa derra­deira do pecado.
Além disso, Deus está sustentando ativamente o mundo que criou. Na conservação, Ele sustenta a criação através de leis estabelecidas (At 17.25). Na providência, Ele controla todas as coisas existentes no Universo, com o propósito de levar a efeito seu plano sábio e amoroso, de forma que não venha a interferir na liberdades das suas criaturas (Gn 20.6; 50.20; 1.12; Rm 1.24).
Se reconhecermos tudo isso, e se nos deleitarmos no Senhor, meditando na sua Palavra de dia e de noite, recebe­remos todas as bênçãos divinas, pois entenderemos quem Ele é, como adorá-lo e de que maneira poderemos servi-lo.
Os salmos são de grande ajuda em nossa adoração. Mui­tos começam com a chamada tradicional hebraica à adora­ção: Aleluia! que significa: "louvem ao Senhor!" (ver SI 106; 111; 112; 113; 135; 146; 147; 148; 149; 150). Atualmente, esse termo é utilizado como declaração de exaltação. Origi­nalmente, porém, era uma conclamação à adoração divina. Os salmos que começam com essa chamada, usualmente fornecem informações a respeito de Deus, focalizando nEle toda a adoração, e revelam aspectos da sua grandeza que são dignos do louvor.

Servir a Deus começa com o orar em seu nome. Isto implica em reconhecer como é distinta a sua natureza con­forme revelada nos seus diversos nomes. Ele se revela a nós a fim de que o glorifiquemos e cumpramos a sua vontade.

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