O Deus Único e Verdadeiro
Russell E. Joyner
Muitas
teologias sistemáticas do passado tentaram classificar os atributos morais e a
natureza de Deus. O Supremo Ser, porém, não se revelou simplesmente para transmitir-nos conhecimentos
teóricos a respeito de si mesmo. Pelo contrário: a revelação que Ele fez de si
mesmo está vinculada a um desafio pessoal, a uma confrontação e a oportunidade
de o homem reagir positivamente a essa revelação. Isso fica evidente quando o
Senhor se encontra com Adão, com Abraão, com Jacó, com Moisés, com Isaías, com
Maria, com Pedro, com Natanael e com Marta. Juntamente com estas e muitas
outras testemunhas (ver Hb 12.1),
podemos testificar que estudamos a fim de conhecê-lo experimentalmente,
e não
somente para saber a respeito dEle. "Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos
os moradores da terra. Servi ao SENHOR com alegria e apresentai-vos a
ele com canto. Sabei que o SENHOR é Deus" (SI 100.1-3).
Todos os textos bíblicos que examinarmos devem ser estudados com um coração
disposto à adoração, ao serviço e à obediência ao Único e Verdadeiro Deus.
Nossa
maneira de compreender a Deus não deve basear-se em
pressuposições a respeito dEle, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo
contrário: devemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós
através das Escrituras. O ser humano tende a criar falsos deuses, nos quais é
fácil crer; deuses que se conformam com o modo de viver e com a natureza pecaminosa
do homem (Rm 1.21-25). Essa é uma das
características das falsas religiões. Alguns cristãos até mesmo caem na armadilha de se desconsiderar a
auto-, revelação divina para desenvolver um conceito de Deus que está mais de
acordo com as suas fantasias pessoais do que com a Bíblia, que é a nossa fonte
única de pesquisa, que nos permite saber que Deus existe e como Ele é.
A Existência de Deus
A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova
racional quanto à existência de Deus. Pelo contrário: ela já
começa tomando a sua existência como pressuposição básica: "No princípio,
Deus"(Gn 1.1). Deus existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia,
há evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado
"disseram os néscios no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1); por
outro: "os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (SI 19.1).
Deus se tornou conhecido mediante o seu ato de criar e de sustentar tudo quanto
existe. Ele dá vida, alento (At 17.24-28), alimento e alegria (At 14.17). Essas
ações são acompanhadas por palavras que interpretam o seu significado e
relevância, fornecendo um registro que explica sua presença e propósito. Deus
também revela a sua existência através do ministério dos profetas, sacerdotes,
reis e servos fiéis. Finalmente, Deus se revelou claramente a nós mediante o
Filho e por intermédio do Espírito Santo que em nós habita.
Os que, entre nós, acreditam que Deus haja se
revelado nas Escrituras, descrevem a Deidade única e verdadeira tendo como base sua
auto-revelação. Vivemos, todavia, num mundo que, via de regra, não aceita esse
conceito da Bíblia como fonte primária de informação. E são muitas as pessoas
que preferem confiar na engenhosidade e percepção humanas para lograrem
alcançar uma descrição particular da Deidade. Para acompanharmos os passos do apóstolo Paulo
na obra de se conduzir a humanidade das trevas para a luz, precisamos ter
consciência das categorias gerais dessas percepções terrenas.
Sob o ponto de vista secular de se entender a
história, a ciência e a religião, a teoria da evolução tem sido aceita por
muitos como fato fidedigno. Segundo essa teoria, à medida que os seres humanos
foram evoluindo, também evoluíram suas crenças religiosas e seus modos de
expressá-las. A religião é apresentada como um movimento que parte
de práticas e crenças simples para as mais complexas. Os seguidores
da teoria da evolução dizem que a religião começa no nível do animismo - a crença de que poderes sobrenaturais, ou espíritos desencarnados,
habitam nos objetos naturais e físicos. Tais espíritos, segundo suas próprias
vontades malignas, teriam influência sobre a vida humana. O animismo evoluiu-se até transformar-se no politeísmo simples, no qual certos poderes sobrenaturais são considerados deidades. O passo seguinte, ainda segundo os evolucionistas, é o henoteísmo: uma das deidades atinge uma posição de supremacia sobre todos os
demais espíritos, e é adorada em detrimento das outras. Segue-se a monolatria,
quando as pessoas optam por adorar um só dos deuses, sem, porém, negar a
existência dos demais.
A conclusão lógica (segundo essa teoria) é o monoteísmo que surge somente quando as pessoas evoluem-se ao
ponto de negar a existência de todos os demais deuses e de adorar uma única deidade. As pesquisas realizadas pelos antropólogos e
pelos missiologistas neste século, demonstram com clareza que essa teoria não é
corroborada pelos fatos históricos, nem pelo estudo cuidadoso das culturas
"primitivas" contemporâneas. Quando os seres humanos
criam um sistema de crenças segundo seus próprios desígnios, ele não tende a
se desenvolver em direção ao monoteísmo, mas, sim, ao animismo e à crença em vários deuses. A
tendência é cair no sincretismo, acrescentando-se a este deidades recém-descobertas ao conjunto das que já são
adoradas.
Em contraste com a evolução, temos a revelação.
Servimos a um Deus que tanto age quanto fala. O monoteísmo não é o resultado do caráter humano evolucionário, mas do desvendamento que Deus fez de si mesmo. A revelação divina é
progressiva na sua natureza à medida que Deus se revelou através dos registros
bíblicos. Já no dia de Pentecostes, após a ressurreição e ascensão de Cristo, temos
a prova de que Deus realmente se manifesta ao seu povo em três Pessoas
distintas. Nos tempos do Antigo Testamento, porém, a prioridade era
estabelecer o fato de que há um só Deus em contraste com os inúmeros deuses
cultuados pelos vizinhos de Israel, em Canaã, no Egito e
na Mesopotâmia.
Através
de Moisés, essa verdade foi proclamada: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso
Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4). A existência de Deus e a sua atividade
contínua não dependiam do seu,relacionamento com qualquer outro deus, ou
criatura. Pelo contrário: nosso Deus podia simplesmente "ser",
optando por chamar o homem a estar ao seu lado (não porque Ele precisasse de
Adão, mas porque este precisava de Deus).
Os Atributos
Naturais de Deus
"Nem
tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa;
pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas"
(At 17.25). Deus existe por si mesmo,
pois não depende de nenhuma fonte originária para existir. Seu próprio nome, Yahweh,
declara que "Ele é e continuará sendo" Deus não depende
de ninguém para aconselhá-lo ou para ensiná-lo: "Com quem tomou conselho,
para que lhe desse entendimento...' e lhe fizesse notório o caminho da
ciência?" (Is 40.14). Ele
não necessitou de outro ser para ajudá-lo na criação e na providência (Is 44.24).
Deus quer e pode outorgar vida ao seu povo. Ele é único por independer de
qualquer outro ser no Universo: "O Pai tem vida em si mesmo" (Jo 5.26).
Nenhum ser criado pode fazer tal declaração. Quanto a nós, criaturas, só resta declarar-lhe
nossa adoração: "Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder,
porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas"
(Ap 4.11).
Espírito
Os
samaritanos eram considerados sectários pelos judeus do primeiro século, e
inimigos a serem evitados. Forçados a abandonar a idolatria, os samaritanos
elaboraram uma interpretação própria do Pentateuco, consagrando o monte
Gerizim como o seu local de adoração. Além disso, rejeitavam o restante do
Antigo Testamento. Jesus, na sua conversa com a mulher samaritana, desfez esse
grave erro: "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em
espírito e em verdade" (Jo 4-24)- De
acordo com essa declaração, a adoração está limitada a nenhum local
específico, posto que tal , fato refletiria um
conceito falso da natureza divina. A adoração teria de estar em conformidade
com a natureza espiritual de Deus.
A Bíblia não define "espírito"; limita-se a oferecer algumas
descrições. Deus, como espírito, é imortal, invisível e eterno, digno de nossa
honra e glória para sempre (1 Tm 1.17). Como espírito, Ele habita
na luz, da qual os seres humanos são incapazes de aproximar-se: "A quem
nenhum dos homens viu nem pode ver" (1
Tm 6.16).
Sua natureza espiritual é-nos de difícil entendimento, pois ainda não o temos
visto conforme Ele é. E, à parte da fé, somos incapazes de compreender o que
não experimentamos. Nossa percepção sensorial não nos oferece nenhuma ajuda
para discernirmos a natureza espiritual de Deus. Ele não está preso à matéria.
Adoramos aquEle que é bem diferente de nós, mas que deseja dar-nos o Espírito
Santo como antegozo do dia em que o veremos conforme Ele é (1 Jo 3.2).
Então, poderemos aproximar-nos da sua presença, porque a nossa mortalidade será
anulada, e nos vestiremos da gloriosa imortalidade (1
Co 15.51-54).
Co 15.51-54).
Cognoscíveis
Deus jamais foi visto (Jo
1.18). O Deus onipotente não pode ser plenamente compreendido pelo ser humano
(Jó 11.7), mas se revelou em diferentes ocasiões e de várias
maneiras. Isto indica que é da sua vontade que o conheçamos e tenhamos um
correto relacionamento consigo (Jo 1.18; 5.20; 17.3; At 14.17; Rm 1.18-20).
Isso não significa, porém, que podemos compreender completa e exaustivamente a totalidade
do caráter e da natureza de Deus (Rm 1.18-20; 2.14,15). Assim, da mesma forma
que Ele se revela, também se oculta: "Verdadeiramente, tu és o Deus que te
ocultas, o Deus de Israel, o Salvador" (Is 45.15).
ocultas, o Deus de Israel, o Salvador" (Is 45.15).
Deus
não se oculta para encobrir-nos
seus atributos, mas para deixar-nos bem
patentes nossos limites diante do seu ilimitado poder. Pelo fato de Deus ter
decidido agir através de seu Filho (Hb 1.2) e
ter a sua plenitude habitando nEle (Cl 1.19),
podemos estar confiantes de que encontraremos em Jesus as grandiosas manifestações do caráter divino.
Jesus não somente torna conhecido o Pai, como também revela o significado e a
importância do Pai Celestial. 9
Por meio de sua palavra, Deus expressa o seu
desejo de que o conheçamos: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus"
(SI 46.10). Ele prometeu a Israel que, submetendo-se este à sua vontade, suas
manifestações comprovariam ser Ele, de fato, o seu Deus, e que Israel era o seu
povo: "E sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas
dos egípcios" (Ex 6.7). A conquista da Terra Prometida era também uma
evidência significativa do fato de o Senhor ser o Deus único, vivo e
verdadeiro, e da possibilidade de se o conhecer (Js 3.10). Os cananeus e
outros povos que estavam prestes a sofrer o castigo divino seriam obrigados a
reconhecer que Deus existe, e que estava lutando por Israel (1 Sm 17-46; 1 Rs
20.28).
Os que se submetem ao Senhor, entretanto, vão além da mera comprovação
de sua existência, alcançando o conhecimento de sua pessoa e propósito (1 Rs
18.37). Segundo o Antigo Testamento, um dos benefícios de se ter um relacionamento
pactuai com Deus é que Ele estará continuamente se revelando àqueles que lhe
obedecem os mandamentos e preceitos contidos na aliança (Ez 20.20; 28.26;
34.30; 39.22, 28; Jl 3.17).
O homem, desde o princípio, vem procurando conhecer o seu Criador. Num
dos períodos mais antigos da história bíblica, Zofar pergunta a Jó se essa busca daria algum resultado:
"Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?" (Jó 11.7). Eliú acrescenta: "Eis que Deus é grande, e nós
o não compreendemos, e o número dos seus anos não se pode calcular" (Jó 36.26). Se temos algum conhecimento de Deus é
porque Ele optou por se nos revelar. Mas este conhecimento que agora temos,
embora confessadamente limitado, é mui glorioso e constitui-se na base
suficiente de nossa fé.
Eterno
Medimos a nossa existência pelo tempo: o passado, o presente e o
futuro. Mas Deus não está limitado pelo tempo, e nem por isso deixou de se
revelar dentro de nosso ponto de referência - o tempo, a fim de tomarmos
conhecimento dessa revelação. Os termos "eterno",
"perpétuo" e "para sempre", são freqüentemente empregados
pelos tradutores da Bíblia na tentativa de captar o sentido das expressões
hebraicas e gregas que colocam a Deus dentro de nossa realidade temporal e finita.10 Ele existia antes da criação: "Antes que os
montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade,
tu és Deus" (SI 90.2).
Ainda que vejamos o tempo como uma forma limitada
de medição, a plena compreensão da eternidade está além de nosso alcance.
Todavia, podemos meditar sobre o aspecto duradouro e intemporal de Deus. E isto nos levará a adorá-lo como o
Deus pessoal que estendeu uma "ponte" sobre o abismo que separava a
sua essência - infinita e ilimitada, da nossa - finita e limitada. "Porque assim diz o Alto e o
Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Em um alto e santo
lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos" (Is 57.15).
Portanto, na impossibilidade de se entender a
relação entre o tempo e a eternidade, confessemos: "Ora, ao Rei dos
séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o
sempre. Amém" (1 Tm 1.17; cf. Nm 23.19; SI 33.11; 102.27; Is 57.15).
Onipotente
Um antigo questionamento filosófico, indaga:
"Deus é capaz de criar uma rocha tão grande que Ele não possa mover? Se
Ele não consegue movê-la, logo, Ele não é todo-poderoso. Se Ele não é capaz de
criar uma rocha tão grande assim, isso comprova que Ele também não é
todo-poderoso". Essa falácia da Lógica simplesmente brinca com as palavras
e desconsidera o fato de que o poder de Deus está relacionado com os seus
propósitos.
A pergunta mais honesta seria: Deus é poderoso
para fazer tudo quanto pretende, e que esteja de acordo com o seu propósito? De
acordo com os seus decretos, Ele demonstra que realmente tem a capacidade de
realizar tudo quanto desejar: "Porque o
SENHOR dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão
estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?" (Is 14.27). O
poder ilimitado do único e verdadeiro Deus jamais será resistido, impedido ou
anulado pelo ser humano (2 Cr 20.6; SI 147.5; Is 43.13; Dn 4.35).
Através
de sua revelação, Deus demonstrou que a sua grande prioridade é chamar, formar
e transformar um povo para si mesmo. Isto
pode ser visto na vida de Sara que, mesmo avançada em idade, Deus lhe concedeu
a bênção da maternidade -
conforme Ele mesmo o disse: "Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR?"
(Gn 18.14; cf. Jr 32.17) - e
na vida da jovem virgem Maria (Mt 1.20-25). O
propósito sublime de Deus, contudo, foi realizado quando ressuscitou a Jesus
dentro os mortos: "E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre
nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em
Cristo, ressusci-tando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus" (Ef 1.19,20).
Os
discípulos, após uma declaração enfática de Jesus, meditaram sobre a
impossibilidade de um camelo passar pelo fundo de uma agulha de costura (Mc 10.25-27). A
grande lição aqui é a impossibilidade de as pessoas se salvarem a si mesmas. No
entanto, isto além de ser possível para Deus, está dentro do seu propósito. Por
isso, a obra de salvação é de domínio exclusivo do Senhor. Podemos exaltá-lo,
não somente porque Ele é onipotente, mas
também porque os seus propósitos são grandiosos, e o seu grande poder é utilizado
por Ele no cumprimento da sua vontade.
Onipresente
Nos
dias do Antigo Testamento, as nações ao redor de Israel serviam a deuses
regionais, ou nacionais, cujo poder limitava-se à
localidade e ao ritual. Na maioria dos casos, os devotos achavam que tais
deidades tinham poder somente nos domínios habitados pelo povo que lhes
prestava culto. Embora o Senhor se apresentasse a Israel como aquEle que
manifestava a sua presença somente no Santo dos Santos do tabernáculo, e
posteriormente no do Templo construído por Salomão, não contradizia a sua onipresença, por
ser isso uma concessão
sua às limitações do entendimento humano. O próprio Salomão reconheceu esse
fato: "Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o
céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado" (1 Rs 8.27).
Os seres humanos temos a nossa existência
limitada às dimensões físicas deste universo. Não há absolutamente lugar algum para onde possamos fugir da presença de Deus: “Para
onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da rua face? Se subir aos
céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama eis que tu ali estás também; se
tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me
guiará e a tua destra me susterá” (SI 139.7-10; cf. Jr 23.23,24). A natureza espiritual de Deus permite seja Ele
onipresente e, ao mesmo tempo, esteja mui próximo de nós (At 17.27,28).
Onisciente
"E não há criatura alguma encoberta diante
dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem
temos de tratar" (Hb 4.13). Deus conhece todos os nossos pensamentos e
intenções (SI 139.1-4). Ele não se cansa na sua atividade de discerni-los (Is 40.28). O conhecimento divino não se acha
limitado por nosso modo de entender o futuro, pois Ele conhece o fim de um
determinado acontecimento antes mesmo deste ter início (Is 46.10).
Não podemos adentrar o conhecimento e a sabedoria de Deus (Rm 11.33). Por isso, é
difícil compreendermos totalmente como Ele pode conhecer previamente os
eventos ocasionados por nosso livre-arbítrio. Isso às vezes põe-nos diante não
de uma contradição, mas de um paradoxo. As Escrituras não nos oferecem
informações suficientes para resolvermos esse paradoxo. Colocam-nos, porém, à nossa disposição aquilo de que precisamos para
que, com a ajuda do Espírito Santo, possamos tomar decisões que estejam em
conformidade com a vontade divina.
Sábio
No mundo antigo, o conceito de sabedoria estava,
quase sempre, relacionado ao campo da teoria e do debate. A
Bíblia, porém, coloca a sabedoria no âmbito da prática e, mais uma
vez, nosso modelo para esse tipo de sabedoria é Deus. A "sabedoria"
(hb. hochmah) reúne o conhecimento da verdade com a experiência
do cotidiano. A sabedoria como conhecimento pode capacitar a pessoa a encher
sua mente com uma enorme quantidade de fatos, mas sem qualquer entendimento do
seu significado ou aplicação. A verdadeira sabedoria, porém, orienta.
O conhecimento que Deus possui dá-lhe o
discernimento de tudo quanto existe e que poderá vir a existir. Tendo em vista
o fato de que Deus existe por si mesmo, seus conhecimentos estão além de nossa
simples imaginação; são ilimitados (SI 147.5). Ele aplica com sabedoria o seu
conhecimento. Todas as obras das suas mãos são feitas pela sua grande
sabedoria (SI 104.24), e assim Ele pode tirar ou colocar reis, mudar os tempos
e estações, conforme lhe parecer bem (Dn 2.21).
Deus deseja que participemos de sua sabedoria e
de seu conhecimento a fim de podermos conhecer os seus planos a nosso respeito,
para podermos viver no centro de sua vontade (Cl 2.2,3).
Os Atributos Morais de Deus
Fiel
Os deuses das religiões do Oriente Próximo eram
volúveis e caprichosos. A grande exceção era o Deus de Israel. Ele é fiel na
sua natureza e nas suas ações. A palavra hebraica amen,
"verdadeiramente", é derivada de uma das mais notáveis descrições do
caráter de Deus, que reflete a sua certeza e fidedignidade: "Exaltar-te-ei e louvarei o teu nome,
porque fizeste maravilhas; os teus conselhos antigos são verdade e firmeza ['emunah 'omen - lit.
'fidelidade de confiabilidade']" (Is 25.1).
Embora usemos a palavra "amém" para
expressar nossa certeza quanto ao fato de Deus responder-nos às orações, as
ocorrências na Bíblia de palavras que se baseiam em amen abrangem uma gama ainda mais ampla das
manifestações do poder e da fidelidade de Deus. O servo de Abraão atribuiu sua
procura bem-sucedida de uma noiva para o jovem Isaque à natureza fiel de Deus
(Gn 24.27). As palavras "benignidade" e "verdade" (hb. 'emeth e 'emunah) são, apropriadamente, extensões de um único conceito hebraico que se pintam na descrição da natureza divina.
O Senhor comprova a sua fidelidade ao cumprir as
suas promessas “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus fiel, que
guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos" (Dt 7.9).
Josué, já no fim de sua vida, declarou ao povo de Israel que o SENHOR nunca lhe
faltara, nem sequer numa única promessa (Js 23.14). O salmista confessou: "tu confirmarás a tua fidelidade até nos céus" (SI 89.2).
Deus se revela constante no seu desejo de ter
comunhão conosco, de guiar e proteger-nos. Se lhe estivermos submissos, nem
mesmo o pecado e a iniquidade terão poder sobre nossas vidas: "As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos; porque as suas
misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua
fidelidade" (Lm 3.22,23).
Pelo fato de Deus ser fiel, seria impossível
pensar que Ele pudesse abandonar os seus filhos, quando estes estiverem
passando por tentações ou provações (1 Co 10.13). "Deus não é homem, para
que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e
não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?" (Nm 23.19). Deus permanece
estável quanto à sua natureza, ao passo que se mostra flexível nas suas ações.
12 Quando Deus faz uma aliança com alguém, a sua promessa é um selo
e garantia suficiente de sua imutável natureza e propósitos: "Pelo que,
querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos
herdeiros da promessa, se interpôs com juramento" (Hb 6.17). Deus jamais
muda seus propósitos, pois se o fizesse, certamente estaria contradizendo o seu
próprio caráter. Paulo faz um contraste entre a natureza humana e a divina,
quando escreve sobre a glória que se segue após o sofrimento de Cristo:
"Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo"
(2 Tm 2.13). A fidedignidade de Deus é absoluta por causa daquilo que Ele é:
fiel e verdadeiro (Dt 32.4; SI 89.8; 1 Ts 5.23,24; Hb 10.23; 1 Jo 1.9).
Verdadeiro
"Deus não é homem, para que minta" (Nm 23.19). A veracidade
de Deus forma um contraste com a desonestidade do ser humano. Deus é
perfeitamente fiel às suas promessas e aos seus mandamentos (SI 33.4;
119.151). Sua integridade moral é a sua característica pessoal permanente (SI
119.160). A veracidade estável e permanente do Senhor é o meio através do qual
somos santificados, porque a verdade proclamada tornou-se a Verdade Encarnada:
"Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17).
Nossa esperança depende diretamente da garantia de que tudo quanto Deus nos
revelou é a mais absoluta verdade. Tudo quanto Ele fez até agora, no que se
refere ao cumprimento de suas promessas, é a garantia definitiva de que Ele
cumprirá tudo o que prometeu (Jo 14.6; Tt 1.1).
Bom
Deus está, de acordo com sua natureza, disposto a
agir com grande generosidade para com a sua criação. Durante os dias da
criação, o Senhor examinava periodicamente a sua obra, e declarava ser ela boa,
pois lhe agradava e era apropriada aos seus propósitos (Gn
1.4,10,12,18,21,25,31). O mesmo adjetivo é usado para descrever o caráter moral
de Deus: "Porque o SENHOR é bom; e eterna, a sua misericórdia" (SI
100.5). Nesse contexto, a expressão transmite muito bem a idéia original de
agradável ou plenamente satisfatória, mas também vai além disso, e ilustra a
graça que é essencial na natureza de Deus: "Piedoso e benigno é o SENHOR,
sofredor e de grande misericórdia. O SENHOR é bom para todos, e as suas
misericórdias são sobre todas as suas obras" (SI 145.8,9; ver também Lm
3.25). Essa faceta da natureza divina é manifestada na sua disposição de prover
todas as nossas necessidades, quer materiais (a chuva e as colheitas, At
14.17), quer espirituais (a alegria, At 14.17; a sabedoria, Tg 1.5). Esse
aspecto também se contrasta com as crenças antigas, segundo as quais todos os
demais deuses eram imprevisíveis, malévolos, dentre outras coisas, menos bons.
Podemos seguir o modelo de nosso generoso e compassivo Deus, pois "toda boa dádiva e todo dom
perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem
sombra de variação" (Tg 1.17).
Paciente
Num mundo cheio de atitudes retaliatórias, quase
sempre tomadas sem qualquer reflexão, nosso "Senhor é longânimo e grande
em beneficência, que perdoa a iniqüidade e a transgressão" (Nm 14-18).
"Longânimo" significa "tardio em irar-se", demonstrando que
Deus é paciente e cheio de compaixão e graça (SI 86.15). Sua longanimidade visa o nosso benefício, e devemos reconhecer que
é para levar-nos ao arrependimento (Rm 2.4; 9.22,23).
Vivemos o grande dilema: por um lado desejamos que Jesus cumpra o mais
rápido possível as suas promessas relativas à sua segunda vinda; por outro,
desejamos que ele a retarde um pouco mais, para que mais pessoas possam
aceitá-lo como Salvador e Senhor. "O Senhor não retarda a sua promessa,
ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que
todos venham a arrepender-se" (2 Pe 3.9).
O Senhor castigará os pecadores na sua vinda,
mas, por enquanto, utiliza-se de sua longanimidade para alcançar e salvar o maior número de pessoas
possível (2 Pe 3.15).
Amor
Quando nos tornamos cristãos, o primeiro texto da
Bíblia a ser memorizado é João 3.16, o qual recitamos com vigor e entusiasmo,
muitas vezes enfatizando a expressão: "Deus amou o mundo de tal
maneira". Depois, com um conhecimento mais profundo do texto, descobrimos
que a ênfase recai não ao caráter quantitativo do amor de Deus, mas ao
qualitativo. E o fato mais importante não é que Deus nos tenha amado a ponto de
dar o seu Filho, mas que Ele nos haja amado de maneira tão sacrificial.
Deus se revelou como alguém que expressa um tipo
específico de amor, o qual é demonstrado por uma dádiva sacrificial. João o define desta forma: "Nisto está a
caridade: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e
enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4.10).
Deus também demonstra o seu amor ao nos dar
repouso, e proteção (Dt 33.12), que devemos sempre lembrar em nossas preces de
ações de graças (SI 42.8; 63.3; Jr 31.3). No entanto, a forma suprema do amor
de Deus, sua maior demonstração de amor, acha-se na cruz de Cristo (Rm 5.8).
Ele quer que estejamos conscientes de que seu amor faz parte integrante de
nossa vida em Cristo: "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo
seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas,
nos vivificou
juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Ef 2.4,5).
O caminho mais excelente, o caminho do amor,
segundo o qual somos exortados a andar, identifica as características que Deus
nos revelou na sua Pessoa e na sua obra (1 Co 12.31-13.13). Se seguirmos o seu
exemplo, produziremos o fruto do amor, e andaremos de tal maneira que os dons (charísmata) do Espírito Santo cumprirão em nós os seus propósitos.
Gracioso
e Misericordioso
Os termos "graça" e
"misericórdia" representam dois aspectos do caráter e da atividade
de Deus que, embora distintos, são correlatos entre si. Experimentar a graça divina é receber
uma dádiva que não podemos adquirir por conta própria, e da qual não somos
merecedores. Experimentar sua misericóridia significa ser preservado do castigo
a que se faz jus. Deus é o juiz supremo que detêm o poder para determinar, em última
análise, a punição a quem merece. Quando Ele nos perdoa o pecado e a culpa,
experimentamos a sua misericórdia. Quando recebemos o dom da vida, experimentamos
a sua graça. A misericórdia divina remove o castigo, ao passo que a sua graça
coloca algo positivo no lugar do negativo. Embora mereçamos o castigo, Ele nos
dá a paz e restaura-nos integralmente (Is 53.5; Tt 2.11; 3.5).
"Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade" (SI 103.8). Posto que precisemos ser trazidos da
morte para a vida, esses aspectos de Deus são amiúde mencionados juntamente nas Escrituras com a finalidade
de demonstrar seu inter-relacionamento (Ef 2.4,5; cf. Ne 9.17; Rm 9.16; Ef
1.6).
Santo
"Porque eu sou o
SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu
sou santo" (Lv 11.44).
Fomos chamados para ser diferentes, porque o Senhor é diferente. Deus se
revela como "santo" (hb. qadosh), e o
aspecto essencial de qadosh é a
separação daquilo que é mundano, profano ou corriqueiro, e a separação (ou
dedicação) para seus propósitos. Os mandamentos dados a Israel exigiam fosse
mantida a nítida distinção entre as esferas do comum e do sagrado (Lv 10.10). Tal
distinção tinha seu impacto sobre o tempo e o espaço (o sábado e o santuário),
mas visava o indivíduo do modo mais relevante. Tendo em vista que Deus é
diferente de qualquer outro ser, todos os que lhe estão submissos devem também
estar separados - no
coração, nas intenções, na devoção e no caráter -
para Ele, que é verdadeiramente santo (Ex 15.11).
Deus, por sua própria
natureza, está separado do pecado e da humanidade pecaminosa. A razão por que
nós, seres humanos, somos incapazes de nos aproximar de Deus, em nosso estado
de pecado, é porque não somos santos. Na Bíblia, a questão da
"impureza" não está relacionada à higiene, mas à santidade (Is 6.5). As
marcas da impureza compreendem: algo quebrado ou defeituoso (ver Is 30.13,14), o
pecado, a violação da vontade de Deus, a rebelião e a permanência no pecado.
Posto que Deus é íntegro e reto,
nossa consagração envolve tanto a separação do pecado quanto a obediência a
Ele.
A
santidade é o caráter e a atividade de
Deus, conforme revelada no título Yahweh meqaddesh, "o
SENHOR que vos santifica" (Lv 20.8). A
santidade de Deus não deve tornar-se mero
assunto de meditação, mas um convite (1 Pe 1.15) para
que participemos de sua justiça e o adoremos juntamente com as multidões. Os quatro
seres viventes no Apocalipse "não descansam nem de dia nem de noite,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que
é, e que há de vir" (Ap 4.8; cf.
SI 22.3).
Reto e Justo
O
Deus Santo é distinto e separado da humanidade pecaminosa. Mesmo assim, Ele
permite que nos aproximemos de sua presença. Essa concessão acha-se
baseada no fato B de que Ele julga o seu povo com retidão e
com justiça (SI 72.2).
Ambos os conceitos são freqüentemente
combinados entre si para ilustrar a maneira como Deus se apresenta a nós.
Na
Bíblia, a retidão é vista segundo um
padrão ético ou moral. A "retidão" (hb. tsedaqah)14 de
Deus é tanto o seu caráter
quando o modo que Ele opta por agir. Deus é reto no
seu caráter ético e moral e,
portanto, serve como padrão para determinar qual a nossa posição em relação a
Ele.
Semelhante
a essa faceta de Deus é a sua justiça (hb. mishpat), através
da qual Ele exerce o seu governo. Muitos sistemas democráticos modernos de
governo separam os deveres do Estado em várias ramificações, que se equilibram
mutuamente e que prestam contas umas às outras (o poder legislativo para
elaborar e aprovar leis; o poder executivo para obrigar o cumprimento das leis
e para manter a ordem; o poder judiciário para garantir a consistência das leis
e para penalizar os transgressores). O mishpat de Deus
coloca todas essas funções dentro do caráter e
do domínio do único Deus soberano (SI 89.14).
Nossas Bíblias freqüentemente
traduzem esse termo hebraico por juízo, que
enfatiza apenas um dos múltiplos aspectos da justiça (Is 61.8; Jr 9.24; 10.24; Am 5.24). A
justiça de Deus inclui a penalidade do juízo, mas subordina essa atividade à
obra global de estabelecer a sua justiça amorosa (Dt 7.9,10).15
O
padrão com que Ele se apresenta a nós é perfeito e reto (Dt 32.4). Por
isso, não podemos, por nós mesmos, ser aprovados por esse padrão, que Deus usa
para avaliar-nos, pois todos nós ficamos
em falta (Rm 3.23). E "tem determinado
um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou;
e disso deu certeza a todos, ressusci-tando-o dos mortos" (At 17.31). Por
outro lado, Deus também se preocupa com as suas criaturas, preservando-as (SI
36.5-7), além de lhes
proporcionar a esperança para o futuro. A encarnação de Cristo incluía todas
as qualidades e atividades da retidão e
da justiça. Sua expiação vicária, em seguida, transmitiu-nos
essa mesma retidão e justiça (Rm 3.25,26) a
fim de comparecermos justificados diante do justo Juiz (2 Co 5.21; 2 Pe 1.1).
Os Nomes de Deus
Em nossa cultura, os pais usualmente escolhem
nomes para seus filhos, tendo por base a estética ou a eufonia. Nos tempos
bíblicos, porém, dar nomes era uma ocasião de considerável relevância. O nome
era uma expressão do caráter, natureza ou futuro do indivíduo (ou pelo menos,
uma declaração do que se esperava de quem o recebeu).16 Nas Escrituras,
Deus demonstrou que o seu nome não era mera etiqueta para distinguí-lo das demais deidades das culturas em derredor. Pelo contrário: cada nome que Ele usa e aceita
revela alguma faceta do seu caráter, natureza, vontade ou autoridade.
Pelo fato de o nome representar a Pessoa e a
presença de Deus, "invocar o nome do Senhor" veio a ser um meio de
entrar em íntima comunhão com Deus. Esse era um tema comum às religiões do
Oriente Médio antigo. As religiões em derredor, porém, tentavam controlar as suas deidades mediante uma manipulação de nomes, ao passo que
os israelitas eram proibidos de usar o nome de seu Deus em vão ou com maus
propósitos (Ex 20.7). Pelo
contrário, deviam manter um relacionamento puro com o seu nome, como estabelecido
por Deus, pois isto trazia consigo a providência e a salvação.
Nomes
do Antigo Testamento
A palavra original para a deidade que se achava em todos os idiomas semíticos era 'El, que
possivelmente tenha se derivado de um termo que significava poder ou preeminência. Entretanto, é incerta a origem exata da palavra.
17 Posto que era usada por várias religiões e culturas diferentes,
em comum, pode ser classificada como um termo genérico para "Deus" ou
"deus" (o que depende do contexto, pois as Escrituras hebraicas não
fazem distinção entre letras maiúsculas ou minúsculas).
Para Israel, havia um só Deus verdadeiro; logo, o
emprego do nome genérico por outras religiões era vão e vazio, pois Israel
tinha de crer em 'El 'Elohe Yisra'el: "Deus,
o Deus de Israel" (ou, possivelmente: "Poderoso é o Deus de
Israel") - Gênesis 33.20.
Na Bíblia, esse nome forma muitos termos
descritivos compostos, tais como: "Deus [ 'El] da glória" (SI 29.3), "Deus ['El] do conhecimento" (1 Sm 2.3), "Deus ['El] da salvação" (Is 12.2), "Deus ['El] da vingança" (SI 94.1) e "Deus ['El] grande e terrível" (Ne 1.5; 4.14; 9.32; Dn
9.4).
A forma plural, 'elohim, acha-se quase 3.000 vezes no Antigo Testamento, e pelo menos 2.300
dessas referências falam do Deus de Israel (Gn 1.1; SI 68.1). O termo 'elohim, no entanto, tinha uma gama suficientemente ampla
de significados, podendo referir-se também aos ídolos (Ex 34.17), aos juízes (Êx 22.8), aos anjos (SI 8.5) ou aos deuses de
outras nações (Is 36.18; Jr 5.7). A forma plural, ao ser aplicada ao Deus de Israel,
pode ser entendida18 como a maneira de significar que a plenitude da deidade acha-se dentro do único Deus verdadeiro, com
todos os atributos, virtudes e poderes.
O sinônimo de 'Elohim é sua forma
singular, Eloah, que também é usualmente traduzida por "Deus". Um exame dos
trechos bíblicos onde o nome ocorre, sugere que este assume um significado
adicional: reflete a capacidade de Deus em proteger ou destruir (o que depende
do contexto específico). E usado em paralelo com "rocha" - refúgio
(Dt 32.15; SI 18.31; Is 44.8). Os que se refugiam nEle descobrem que 'Eloah é um escudo de proteção (Pv 30.5), mas um terror para os pecadores:
"Ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus ['Eloah]; para que vos não faça em pedaços, sem haver
quem vos livre" (SI 50.22; ver também 114.7; 139.19). Esse nome, portanto,
é um consolo para os que se humilham e nEle buscam refúgio, mas castiga os que
praticam a iniqüidade.
O nome é um desafio para as pessoas decidirem
qual aspecto de Deus querem experimentar, porque "bem-aventurado é o
homem a quem Deus ['Eloah] castiga" (Jó 5.17). Jó acabou reverenciando Deus na sua majestade,
arrepen-dendo-se das palavras inúteis que havia proferido (37.23; 42.6).
Deus freqüentemente revelava uma faceta a mais do
seu caráter, fornecendo frases ou locuções descritivas em conexão com seus
vários nomes. Ao renovar a sua aliança com Abrão [Abraão], identificou-se como 'ElShaddai (Gn 17.1).21
Nalgumas passagens
bíblicas, shaddai parece
transmitir a idéia de
alguém que tem o poder de devastar e destruir. No Salmo 68.14, o Shaddai "espalhou
os reis"; idéia
semelhante é apresentada pelo profeta Isaías: "Uivai, porque o dia do
SENHOR está perto; vem do Todo-poderoso [shaddai] como
assolação" (Is 13.6).
Noutros textos, porém, a ênfase parece recair em Deus como aquele que é auto-suficiente em
tudo: "O Deus Todo-poderoso ['El Shaddai] me
apareceu em Luz, na terra de Canaã, e me abençoou, e me disse: Eis que te farei
frutificar e multiplicar" (Gn 48.3,4; ver
também 49.24). Os eruditos usualmente
optam por traduzir 'El Shaddai como
"Todo-poderoso" ou "Onipotente",
reconhecendo a capacidade de Deus em abençoar ou castigar, conforme a situação,
posto que ambas as características encontram-se incluídas
no caráter e no poder que é
peculiar a esse nome.
Outras
aposições ajudam a revelar o caráter de
Deus. Sua natureza exaltada é demonstrada em 'El 'Elyon, "Deus
Altíssimo" (Gn 14.22; Nm
24.16;Dt 32.8).22 A natureza eterna de
Deus é representada por 'El 'Olam, "perpétuo"
ou "eterno"; quando Abraão se estabeleceu em Berseba, "invocou
lá o nome do SENHOR, Deus eterno" (Gn 21.33; cf.
SI 90.2). Todos os que vivem sob o
domínio do pecado e que precisam da libertação, invocam 'Elohim yish'enu, "Deus
nosso Salvador" (1 Cr 16.35; SI 65.5; 68.19; 79.9).
O
profeta Isaías foi grandemente usado pelo Senhor para falar aos seus
contemporâneos tanto palavras de juízo como de consolação. Tais palavras não
resultavam de especulações, nem de análise feita por alguém sobre a condição
social do povo. O profeta ouviu o recado do Deus que se revelou. Seu comissionamento, em
Isaías 6, pode ajudar-nos a
conhecer um pouco mais sobre sua Pessoa. Ali, Deus se revelou exaltado num
trono real. O comprimento das suas vestes confirmava a sua majestade. Os
serafins declaravam a sua santidade23 e pronunciavam o nome pessoal
de Deus: Yahweh.
O
nome Yahweh aparece 6.828
vezes em 5.790 versículos no Antigo
Testamento,24 e é a designação mais freqüente de
Deus na Bíblia. E provável que esse nome se derive do verbo hebraico que
significa "tornar-se",
"acontecer", "estar presente". Quando Moisés
tinha diante de si o dilema de como convencer os escravos hebreus a acolhê-lo como mensageiro da parte de Deus, quis
saber o nome do Senhor. A forma que sua pergunta assume é realmente uma busca
da descrição do caráter, e não de um título (Ex 3.11-15). Moisés não estava
perguntando: "Como te chamarei?" mas: "Qual é o teu caráter;
como és tu?" Deus respondeu: "EU SOU O QUE SOU" ou "SEREI
O QUE SEREI" (v. 14). Em hebraico 'ehyeh 'asher 'ehyeh indica a
existência em ação.26
Na frase seguinte, Deus se identifica como o Deus
de Abraão, de Isaque e de Jacó, que doravante será conhecido como YHWH. Essa expressão hebraica, que consiste de quatro consoantes, é
conhecida como o Tetragrama, e é usualmente traduzida nas nossas Bíblia como
SENHOR (em letras maiúsculas). O senhorio, porém, não é realmente um aspecto
essencial desse termo. Pelo contrário: é uma declaração de que
Deus é alguém que tem existência em si mesmo (o EU SOU ou EU SEREI), que faz
com que todas as coisas venham à existência, e que optou por escolher um povo
para si, estando fielmente ao seu lado.
Nos tempos do Antigo Testamento, esse nome era
pronunciado livremente pelos israelitas. O terceiro mandamento (Ex 20.7) era
claro: "Não tomarás o nome do SENHOR (YHWH), teu Deus,
em vão". Este nome não podia ser citado levianamente, visando prestígio ou
vantagens imerecidas.
No decorrer dos séculos, porém, os escribas e rabinos desenvolveram uma estratégia para
sustentar tal proibição. Inicialmente, os escribas escreviam a palavra hebraica 'adonai, "meu Senhor", "meu Mestre",
na margem do rolo, todas as vezes que a palavra YHWH aparecia no texto inspirado das Escrituras. Sinais avisavam que se
devia ler 'adonai em vez do Nome Santo que se encontrava no texto
bíblico. A idéia era que se ninguém pronunciasse o Nome Santo, este não poderia
ser tomado em vão. Mas esse método não era infalível, e alguns leitores
pronunciavam o Nome (sem querer) ao lerem as Escrituras publicamente na
sinagoga. Mas a grande reverência pelo texto bíblico impedia que os escribas e rabinos chegassem ao ponto de retirar deste o
nome divino, YHWH, e
substituí-lo por termos menos importantes, como é o caso de 'adonai.
Finalmente,
os rabinos concordaram em colocar vogais no texto hebraico (uma vez que o texto
inspirado consistia, originalmente, só de consoantes).
Tiraram as vogais de 'adonai
e as modificaram para ajustar-se às
exigências gramaticais de YHWH, encaixando-as
entre as consoantes do Nome Divino. E, assim, foi criada a forma híbrida
YeHoWaH. As vogais serviriam, então, para lembrar o leitor a pronunciar 'Adonai. Algumas
Bíblias transliteram essa forma híbrida por "Jehovah" (aportuguesado
"Jeová"), criando uma palavra composta com as consoantes de um nome
pessoal e as vogais de um título que nunca teve existência real na língua
hebraica.
Já
nos tempos do Novo Testamento, o costume de substituir o Nome inefável por
"Senhor" foi aceita por seus escritores (e nisto foram seguidos em
muitas traduções modernas da Bíblia).
Assim é aceitável. Mas devemos ensinar e pregar que o caráter do
"Senhor/Yahweh/Eu Sou/Eu Serei" é a sua presença ativa e
fiel. Se "Yahweh" for a pronúncia original, o significado gramatical
seria "aquele que continuamente causa a existência". "Porque
todos os povos andarão, cada um em nome do seu deus; mas nós andaremos no nome
do SENHOR [Yahweh], nosso
Deus, eternamente e para sempre" (Mq 4-5).
Os
serafins, na visão de Isaías, combinam o nome pessoal do Deus de Israel com o
substantivo descritivo tseva'oth,
"exércitos" ou "hostes". Essa combinação entre Yahweh e tseva'oth ocorre
em 248 versículos da Bíblia (62
vezes em Isaías, 77 em
Jeremias, 53 em Zacarias) e é usualmente
traduzida por "SENHOR dos Exércitos" (Jr 19.3; Zc 3.9,10). Trata-se da
afirmação de que Yahweh (aportuguesado
Javé) era o verdadeiro líder dos exércitos de Israel, bem como das hostes dos
céus, inclusive os anjos e as estrelas, reinando universalmente como Supremo
Comandante do universo inteiro. A forma como é empregada a expressão em Isaías 6.3, contrapõe-se ao
postulado das nações em derredor de que cada deus regional era o deus guerreiro
que mantinha domínio exclusivo naquele país. Mesmo se Israel fosse derrotado,
não seria porque Javé era mais fraco do que outro deus guerreiro, mas porque
Javé estava usando os exércitos dos países vizinhos (que Ele mesmo criara) para
castigar o seu povo impenitente.
No Oriente Médio antigo, o rei também era o líder
de, todas as operações militares. Por isso, esse título, Yahweh Tseva'oth, é outra
maneira de exaltar a realeza de Deus: "Levantai, ó portas, as vossas
cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é
este Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos [Yahweh Tseva'oth], ele é o Rei da Glória" (SI 24.9,10).
Os serafins, na visão de Isaías, também confessam que "toda a terra está
cheia da sua glória". Esta glória (hb. kavodti) contém o conceito de posição privilegiada. O uso do vocábulo
"glória", neste contexto, indica alguém que possui uma posição de
grande destaque, publicamente reconhecida. Essa "glória" pertence a
quem é honrado, impressionante e digno de respeito.
A revelação que Deus faz de si mesmo está
relacionada ao seu propósito de habitar entre os seres humanos. Ele deseja que
a sua realidade e o seu esplendor sejam devidamente conhecidos. Mas isso é
possível somente quando as pessoas compreedem a qualidade indelével de sua
santidade (inclusive a importância de cada um dos seus atributos), e se
revestem de fé e de obediência a fim de que essa faceta do caráter divino seja
nelas manifestada. Deus não se manifesta de modo físico, porém muitos cristãos
podem testemunhar da sensação subjetiva e espiritual de haverem experimentado
a presença poderosa do Senhor. E exatamente essa a experiência de Isaías. Somente Deus é digno de toda a grandeza, da
glória, do reino e do poder. Mas não é somente essa única reputação divina que
enche a terra; a própria realidade de sua presença e a plena posição de
destaque de sua glória acham-se por toda a parte (cf.2 Co 4.17).
O desejo de Deus é que todas as pessoas
reconheçam expontaneamente a sua glória. Ele habitou progressivamente em
glória entre os seres humanos; primeiramente, na coluna de fogo e de nuvem, no Tabernáculo, no Templo em Jerusalém, e posteriormente, na
carne, como seu Filho, Jesus de Nazaré. E, agora, em nós, pelo seu Espírito
Santo. "Vimos a sua glória, como a glória do Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo
1.14). Hoje, temos a certeza de que todos somos templo do Espírito Santo de
Deus (1 Co 3.16,17).
O nome "Eu sou/Eu serei", em conjunção com determinados
termos descritivos, serve frequentemente como a confissão de fé que revela
ainda mais a natureza de Deus. Quando Isaque perguntou ao seu pai: "Eis
aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?",
Abraão garantiu ao seu filho que Deus o proveria [yireh] (Gn 22.7,8). Depois de sacrificar o carneiro substituto que ficara
preso entre os arbustros, Abraão chamou aquele local de Yahweh yireh, "o
SENHOR proverá" (v. 14).
A fé de Abraão, contudo, ía além de uma simples
confissão de que Deus apenas provê o material. Para o patriarca, Deus era aquEle
que estava pessoalmente envolvido e disposto a dar uma solução ao problema. E
este foi resolvido ao prover Deus um substituto para Isaque, como oferta sacrificial aceitável. Depois do acontecido, podemos
testificar que o Senhor realmente provê. Mas Abraão, mesmo durante a subida ao monte, estava
confiante de que Deus iria prover uma solução, pois tinha assegurado aos servos
que tanto ele quanto Isaque voltariam. A fé de Abraão permitiu que ele se
lançasse por completo aos cuidados de Deus. Pois acreditava que o Senhor era
capaz de dar uma solução para todo e qualquer problema, segundo a sua sabedoria
e seus propósitos. Mesmo que isso envolvesse o sacrifício de seu filho, Deus o
ressuscitaria dentre os mortos (ver Hb 11.17-19).
O nome sagrado de Deus também é empregado em combinação
com vários outros termos usados para descrever muitas facetas do caráter, da
natureza, das promessas e das atividades do Senhor. Yahweh Shammah, "o Senhor Está Ali", serve como promessa da presença e do
poder de Deus na cidade profetizada por Ezequiel (Ez 48.35).
Yahweh 'osenu, "o Senhor nosso Criador", é uma declaração da sua
capacidade e disposição para lançar mão das coisas que existem e torná-las
úteis (SI 95.6).
Os hebreus, no deserto, experimentariam o cuidado de Yahweh roph'ekha, "o
Senhor teu médico" ou "o Senhor que te sara", se escutassem e
obedecessem aos seus mandamentos (Ex 15.26).32 Desta maneira,
conseguiriam evitar as pragas e as enfermidades que Deus enviara sobre o Egito.
Nosso Senhor, pela sua natureza, é quem cura aqueles que se submetem ao seu poder
e à sua vontade.
Após ter comandado com êxito total a batalha
contra os amalequitas, Moisés levantou um altar dedicado a Yahweh nissi, "O Senhor é a minha bandeira" (Ex 17.15). A bandeira servia
de baliza para o reagrupamento durante a batalha ou em qualquer outra atividade
coletiva. Essa função da bandeira aparece simbolicamente na
serpente de bronze erguida numa haste, e no Salvador, que serviria de bandeira
para os povos (Nm 21.8,9; Is 62.10,11; Jo 3.14; Fp 2.9).
Quando Deus falou a Gideão, este edificou um altar a Yahweh Shalom: "O Senhor é Paz" (Jz 6.23). A essência do Deus de paz é
inteireza, integridade, harmonia, realização, no sentido de lançar mão daquilo
que é incompleto ou quebrado e deixá-lo completo mediante um ato soberano. Podemos enfrentar desafios difíceis, assim como aconteceu a Gideão ao
confrontar os midianitas, sabendo que Deus nos outorga paz: essa é uma das
maneiras de Ele manifestar a sua natureza.
O povo de Deus precisa de um protetor e provedor.
E, assim, Deus se revelou como Yahweh ro'i, "o SENHOR é meu pastor" (SI 23.1).
Todos os aspectos positivos do pastoreio no Oriente Médio antigo acham-se
aplicados ao Senhor (guiar, alimentar, defender, cuidar, curar, treinar,
corrigir e dispor-se a morrer pelas ovelhas, se necessário for).
Quando Jeremias profetizou a respeito do rei
vindouro, o rebento justo de Davi, que Deus suscitaria, o nome pelo qual esse
rei seria conhecido era Yahweh tsidkenu: "O Senhor justiça nossa" (Jr 23.6; ver
também 33.16). E da natureza divina agir com justiça e juízo para que nos
coloquemos diante dEle como justos. Deus torna-se a norma e o padrão para
pautarmos a nossa vida. Pois se Ele fez de Cristo, "que não conheceu
pecado", "pecado por nós" (2 Co 5.21), podemos, então, ser
participantes de sua promessa que nos declara justos. "Mas vós sois dele,
em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co 1.30).
Uma das maneiras de Deus demonstrar o seu
propósito em ter um relacionamento com o seu povo é mediante a sua descrição
como "Pai". O conceito de Deus como Pai está muito mais desenvolvido
no Novo que no Antigo Testamento, ocorrendo 65 vezes nos três primeiros
Evangelhos, e mais de 100 vezes só no Evangelho de João. O Antigo Testamento
identifica Deus como Pai somente 15 vezes (usualmente com relação à nação ou ao
povo de Israel).
Os aspectos específicos da paternidade divina,
sempre enfatizados, incluem a criação (Dt 32.6), a responsabilidade pela
redenção (Is 63.16), a formação de uma nova personalidade (Is 64.8), a amizade familiar (Jr 3.4), o repassar a
herança (Jr 3.19), a liderança (Jr 3.19), o prestar a honra (Ml 1.6) e estar
disposto a castigar a transgressão (Ml 2.10,12). Deus também é visto como Pai
de indivíduos específicos, especialmente dos reis Davi e Salomão. No tocante a
eles, o Pai está disposto a castigar o erro (2 Sm 7.14), sem deixar de ser fiel
no seu amor (1 Cr 17.13). Acima de tudo, Ele promete ser fiel para sempre,
garantindo a sua proteção, como Pai, por toda a eternidade (1 Cr 22.10).
Nomes
no Novo Testamento
O Novo Testamento oferece uma revelação muito
mais clara do Deus Trino e Uno do que o Antigo Testamento. Deus é Pai (Jo 8.54; 20.17), Filho
(Fp 2.5-7; Hb 1.8) e Espírito Santo (At 5.3,4; 1 Co 3.16). Grande parte dos
nomes, títulos e atributos divinos encaixam-se mais apropriadamente nas
categorias de "Trindade", "Cristo" e "Espírito
Santo". Por isso, os nomes de Deus serão tratados com mais profundidade
nos capítulos específicos deste livro. O que se segue focalizará apenas os
nomes e títulos que falam mais diretamente a respeito do único e verdadeiro
Deus.
O termo "teologia" deriva-se da palavra
grega theos. Os tradutores da Septuaginta adotaram-na como a palavra apropriada
para representar o vocábulo hebraico 'elohim e seus sinônimos correlatos. Os escritores do Novo Testamento seguiram a
mesma orientação. Theos também era
o termo genérico para os seres tidos como divinos. Na ilha de Malta, por
exemplo, Paulo foi chamado deus por ter sobrevivido à mordida de uma víbora (At
28.6). O termo pode ser traduzido, de acordo com o contexto literário, por
"deus", "deuses" ou "Deus", a exemplo do que
acontece com o termo hebraico 'El (Mt 1.23; 1
Co 8.5; Gl 4.8). Mesmo assim, o emprego dessa palavra grega não faz a mínima concessão
à existência de outros deuses, posto que o contexto literário não é idêntico ao
contexto espiritual. Dentro da realidade espiritual, há, um só Ser Divino:
"Sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro [theos], senão um só" (1 Co 8.4). Deus tem o direito exclusivo a esse
termo, como revelação adicional de si mesmo. Podemos dizer o mesmo a respeito
do termo grego logos, "Verbo"
ou "Palavra" Go 1.1,14).
O Antigo Testamento introduz o conceito
figurativo de Deus como Pai; o Novo Testamento demonstra como esse
relacionamento pode ser plenamente experimentado. Jesus fala frequentemente a
respeito de Deus, utilizando termos que caracterizam intimidade. Nenhuma oração
no Antigo Testamento dirige-se a Deus como "Pai". Jesus, porém, ao
ensinar seus discípulos a orar, esperava deles que adotassem a postura de
filhos, e dissessem: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome" (Mt 6.9). Nosso Deus é o
"Pai" Todo-poderoso que se acha nos céus (Mt 26.53; Jo 10.29); e Ele
utiliza seu poder para conservar, sustentar, chamar, amar, preservar, prover e glorificar (Jo 6.32; 8.54; 12.26; 14.21,23; 15.1; 16.23).
O apóstolo Paulo resumiu a sua própria teologia,
focalizando a nossa necessidade de favor e integridade imerecidos. Ele inicia
a maioria de suas epístolas com essa declaração de invocação: "Graça e paz
de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1.7; ver também 1 Co
1.3; 2 Co 1.2; Gl 1.3; etc).
Na filosofia grega, os seres divinos eram
descritos como "motor imóvel", "a causa de toda a
existência", "a existência pura", "a alma universal" e
por outras expressões impessoais. Jesus seguia a forma da revelação do Antigo
Testamento, e ensinava que Deus é pessoal. Embora Jesus falasse do Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó (Mc 12.26); do Senhor (Mc 5.19; 12.29; Lc 20.37); do Senhor do céu e
da terra (Mt 11. 25); do Senhor da seara (Mt 9.38); do único Deus (Jo 5.44); do
Altíssimo (Lc 6.35); do Rei (Mt 5.35) - seu título predileto para Deus era
"Pai", que no Novo Testamento é o grego pater (daí derivam as palavras "patriarca" e "paterno").
Surge uma exceção em Marcos 14.36, onde o termo aramaico 'abba, que Jesus usou
para dirigir-se a Deus, foi conservado.
Paulo designou Deus como 'abba em duas
ocasiões: "Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito
de seu Filho, que clama: Aba, Pai [gr. Ho pater]" (Gl 4.6). "Não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual
clamamos: Aba, Pai [gr. ho pater]. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus" (Rm 8.15,16). Isto é: na Igreja Primitiva, os cristãos judaicos
estariam invocando Deus, dizendo: 'Abba, "O Pai!" e os cristãos gentios estariam exclamando: Ho Pater, "O Pai!" Ao mesmo tempo, o Espírito Santo estaria tornando
real para eles que Deus é, de fato, o Pai de todos. A qualidade incomparável do termo acha-se no fato de que Jesus lhe
atribuiu uma ternura incomum. Além do mais, caracterizava muito
bem o seu próprio relacionamento com Deus, e também o tipo de relacionamento
que Ele queria, em última análise, que os seus discípulos tivessem com o Pai.
A Natureza de Deus
O Deus onipotente não pode ser plenamente compreendido pelo ser
humano, mas nem por isso deixou de se revelar de diversas maneiras e em várias
ocasiões a fim de que o venhamos a conhecer. Deus não pode ser compreendido
pela mera lógica humana, e nem sequer sua própria existência pode ser
comprovada desta maneira. Com isso, queremos dizer que não estamos de forma
alguma diminuindo os seus atributos, fazendo uma declaração confessional das
nossas limitações e da infinitude divina. Nosso modo de entender a Deus pode
ser classificado em duas pressuposições primárias: (1) Deus existe; e (2) Ele
se revelou a nós de modo adequado através da sua revelação inspirada.
Não se pode explicar Deus, mas somente crer nEle.
Podemos basear a nossa doutrina sobre Deus nas pressuposições já citadas, e
nas evidências demonstradas nas Escrituras. Alguns textos bíblicos atribuem à
pessoa de Deus qualidades que os seres humanos não possuem, ao passo que
outros textos o descrevem em termos de atributos morais que são compartilhados
pelos seres humanos ainda que de forma limitada.
A natureza de Deus é identificada com mais frequência
por aqueles atributos que não possuem analogia com o ser humano. Deus existe
por si mesmo, sem depender de outro ser. Ele é a fonte originária da vida,
tanto ao criá-la quanto ao sustentá-la. Deus é espírito; Ele não está confinado
à existência material, e é imperceptível ao olho físico. Sua natureza não muda,
permanece inalterável. Posto que o próprio Deus é o fundamento do tempo, Ele
não pode ser limitado pelo tempo. Ele é eterno, sem começo nem fim. Deus está
totalmente consistente dentro de si mesmo. O espaço não pode limitá-lo, pois
Ele é onipresente. Deus também é onipotente, pois é poderoso para fazer tudo
que esteja de acordo com a sua natureza e segundo os seus propósitos. Além
disso, é onisciente; conhece efetivamente todas coisas - passadas, presentes e
futuras. Em todos esses atributos, o cristão pode achar o consolo e a
confirmação da fé, ao passo que o incrédulo é advertido e motivado a crer.
As evidências bíblicas dos atributos morais de
Deus demonstram características que também são encontradas no ser humano. Mas
as nossas não passam de pálidos reflexos da magnífica glória demonstrada pelo
Senhor. De grande importância, neste grupo, é a santidade de Deus, a sua mais
completa perfeição e a sua exaltação sobre todas as criaturas. Nesta sua
perfeição fundamental, estão incluídas a sua retidão, que resulta na
decretação de leis; e a sua justiça, que resulta na sua execução. O carinho que
Deus tem pelos seus filhos é expressado pelo seu amor sacrificial. O amor divino é abnegado, justo e eterno e tem
iniciativa própria. Além disso, Ele demonstra benevolência ao sentir e
manifestar afeição pela sua criação em geral. Ele demonstra misericórdia ao
dirigir sua bondade àqueles que passam necessidades e são surpreendidos por
alguma desgraça, e ao suspender o castigo merecido pelo pecador arrependido.
Ele também manifesta a sua graça na forma da bondade concedida aos que não têm
o mínimo merecimento.
A sabedoria de Deus é vista nos seus propósitos e
nos planos que Ele emprega para fazer cumprir tais propósitos. O exemplo
primário da sabedoria divina, encarnada e atuante, é a Pessoa e a obra de
Jesus. Outras expressões desta sabedoria incluem a paciência pela qual detém
seu justo juízo contra os que vivem no
pecado, e também a veracidade com que cumpre a sua Palavra, levando-nos a
confiar nela e , nas
suas ações. Jesus, o Messias de
Deus, é a Verdade encarnada. Finalmente, há a perfeição moral da fidelidade.
Ele é totalmente fidedigno no cumprimento da sua aliança, confiável ao
perdoar, e nunca falha nas suas promessas. Nas suas decisões, é inabalável. A
linguagem figurada da rocha é freqüentemente
usada para retratar a firmeza de Nosso Senhor e a proteção que Ele nos
oferece.
As obras
de Deus
Outro
aspecto da doutrina de Deus que requer a nossa atenção é o das suas obras. Este
aspecto pode ser dividido em: 1)
seus decretos 2) sua
providência e 3)
conservação. Os decretos divinos são o seu plano eterno que, em virtude de suas
características, faz parte de um só plano, que é imutável e eterno (Ef 3.11; Tg 1.17). São
independentes e não podem ser condicionados de nenhuma maneira. (SI 135.6). Têm
a ver com as ações de Deus, e não com a sua
natureza (Rm 3.26).
Dentro desses decretos, há as ações
praticadas por Deus, pelas quais tem Ele responsabilidade soberana; e também
as ações das quais Ele, embora
permita que aconteçam, não é responsável.41 Baseado nessa distinção, torna-se
possível concluir que Deus nem é o autor do mal (embora seja o criador de
todas criaturas subalternas), nem
é a causa derradeira do pecado.
Além
disso, Deus está sustentando ativamente o
mundo que criou. Na conservação, Ele sustenta a criação através de leis
estabelecidas (At 17.25). Na
providência, Ele controla todas as coisas existentes no Universo, com o
propósito de levar a efeito seu plano sábio e amoroso, de forma que não venha a
interferir na liberdades das suas criaturas (Gn 20.6; 50.20; Jó 1.12; Rm 1.24).
Se
reconhecermos tudo isso, e se nos deleitarmos no Senhor, meditando na sua
Palavra de dia e de noite, receberemos todas as bênçãos divinas, pois
entenderemos quem Ele é, como adorá-lo e de que maneira poderemos servi-lo.
Os
salmos são de grande ajuda em nossa adoração. Muitos começam com a chamada
tradicional hebraica à adoração: Aleluia! que significa: "louvem ao Senhor!" (ver SI
106; 111; 112; 113; 135; 146; 147; 148; 149; 150). Atualmente, esse termo é
utilizado como declaração de exaltação. Originalmente, porém, era uma
conclamação à adoração divina. Os salmos que começam com essa chamada,
usualmente fornecem informações a respeito de Deus, focalizando nEle toda a
adoração, e revelam aspectos da sua grandeza que são dignos do louvor.
Servir a Deus começa com o orar em seu nome. Isto
implica em reconhecer como é distinta a sua natureza conforme revelada nos
seus diversos nomes. Ele se revela a nós a fim de que o glorifiquemos e cumpramos a sua vontade.
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