Muitas
obras de teologia sistemática não apresentam um capítulo específico a respeito
do batismo no Espírito Santo. Na
realidade, de modo geral, a Pessoa e a obra do Espírito Santo têm sido
grandemente negligenciadas. William Barclay escreve: "A história da Bíblia
é a história de homens cheios; do Espírito.
Mesmo assim... nosso modo de pensar acerca
do Espírito é mais vago e indefinido que nossas formulações teológicas acerca
de qualquer outro elemento da fé cristã". Carl F. H. Henry observa, com
pesar: "Os teólogos do passado... não nos deixaram nenhuma delineação
plena do ministério do Espírito Santo".
Felizmente
a Igreja hodierna, em sua totalidade, está, finalmente, dando maior atenção ao
Espírito Santo.
Obras como
as de Frederick D. Bruner e James D. G. Dunn indicam interesse crescente pelo
assunto entre os não-pentecos-tais. Isto
deve-se, em grande
medida, à persistência e ao crescimento do Movimento Pentecostal. Os líderes
eclesiásticos agora citam o Pentecostalismo como "uma terceira força na
Cristandade", lado a lado com o catolicismo e o protestantismo.
Essa
"terceira força" passou a merecer a atenção dos teólogos,
principalmente em razão de sua presença mundialmente visível. Ou seja: os
estudiosos reconhecem o Pentecostalismo porque ele é "uma terceira força
na sua doutrina", especificamente a que trata do batismo no Espírito Santo. Dunn observa que os
católicos enfatizam o papel da Igreja e dos sacramentos, e subordinam o
Espírito à Igreja. Os protestantes enfatizam o papel da
pregação e da fé, e, subordinam o Espírito à Bíblia. Os pentecostais, no
entanto, reagem a esses dois extremos - ao sacramentalismo que pode se tornar
mecânico e à ortodoxia biblista que pode se tornar espiritualmente morta - e
reclamam uma experiência vital com o próprio Deus no Espírito Santo.
Este capítulo divide o batismo no
Espírito Santo em cinco questões ou temas subordinados: (1) a distinção entre o
batismo no Espírito Santo e a regeneração; (2) as evidências da experiência do
batismo no Espírito Santo na vida do crente; (3) a disponibilidade do batismo
no Espírito Santo para os crentes hoje; (4) o propósito do batismo no Espírito
Santo; e (5) o recebimento do batismo no Espírito. O enfoque à matéria aqui
apresentada é mais analítico e descritivo que apologético ou polêmico.
Distinção
e Evidências
A distinção e as evidências do batismo
no Espírito Santo são estudadas em primeiro lugar porque delas depende a
maioria das posições teológicas no tocante às demais questões. Isto é, as
posições adotadas quanto a esses dois primeiros tópicos definem as questões
nas demais áreas.
A questão da disponibilidade hoje do
batismo no Espírito Santo é muito discutida. Por um lado, muitos estudiosos da
Bíblia responderão que o batismo no Espírito está à disposição dos crentes
atuais, mas apenas como parte da conversão. Por outro, quando os
pentecostais afirmam que o Espírito está disponível, argumentam em favor de
uma experiência distinta da regeneração, em certo sentido, e acompanhada pela
evidência física inicial do falar em línguas.
Além disso, embora a distinção e as
línguas como evidência estejam estreitamente relacionadas entre si, não deixam
de ser questões separadas. Pela lógica, existem quatro possíveis posições
quanto à distinção e as línguas como evidência. Em primeiro lugar, como já foi
dito, há os que pensam ser o batismo no Espírito Santo parte da experiência da
conversão, sem qualquer evidência inicial, como o falar em outras línguas. Esta
posição é representada por Dunn e Bruner. Em segundo lugar, há
os que admitem o batismo no Espírito Santo como parte da experiência da
conversão, sempre acompanhado pela evidência especial do falar em outras
línguas. Esta é a posição de alguns grupos pentecostais da Unicidade. Em terceiro lugar, há os que acreditam que o
batismo no Espírito Santo usualmente vem após a regeneração, mas a experiência
nem sempre é acompanhada pelo falar em outras línguas. Esta é a posição de
alguns grupos oriundos do movimento da Santidade, como a Igreja do
Nazareno. Em quarto lugar, há os que defendem o batismo no Espírito Santo
como uma experiência geralmente ocorrida após a regeneração e sempre
acompanhada pela evidência especial do falar em outras línguas. Esta é a
posição de igrejas pentecostais como as Assembleias de Deus.
Terminologia
A expressão "batismo no Espírito
Santo" não se acha na Bíblia. Nem por isso deixa de ser bíblica, pois tem
a sua origem na fraseologia semelhante empregada pelos escritores
bíblicos. Os três escritores dos evangelhos sinóticos relatam a comparação que
fez João Batista entre o seu trabalho de batizar em água e a obra futura de
Jesus (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). A respeito de Jesus, diz João: "Ele vos
batizará no Espírito Santo". Lucas retoma a terminologia em At 1.5, ao
descrever as palavras de Jesus aos seus seguidores: "Vós sereis batizados
com o Espírito Santo, não muito depois destes dias". Lucas emprega a
terminologia pela terceira vez em Atos 11.16 ao narrar como Pedro interpretou a
experiência na casa de Cornélio. Explicando aos crentes em Jerusalém como Cornélio recebeu o Espírito Santo, Pedro lembra-lhes
as palavras do Senhor: "Sereis batizados no Espírito Santo". Parece
que esta terminologia encaixava-se no pensamento de Pedro como perfeita para
descrever a experiência de Cornélio ao
falar em línguas. Na realidade, a única diferença entre a expressão
"batismo no Espírito Santo" e as que aparecem nas referências
bíblicas citadas é que aquela emprega a forma substantivada
"batismo", ao invés das formas verbais.
Outro detalhe a ser notado é que a
expressão "batismo no Espírito Santo" é apenas uma entre várias
frases bíblicas desse tipo
que, segundo acreditam os pentecostais, descrevem um evento ou experiência
incomparável do Espírito Santo. Há outras fomas, também derivadas da linguagem
do Novo Testamento, especialmente Atos dos Apóstolos: "estar cheio do
Espírito Santo"; "receber o Espírito Santo"; "ser derramado
o Espírito Santo", "o Espírito Santo caindo sobre"; "o
Espírito Santo vindo sobre"; e variações dessas frases.
Os
pentecostais geralmente sustentam que semelhantes frases têm o mesmo
significado como descrição da experiência mesma do Espírito Santo. Howard M.
Ervin observa que, "em cada caso, é a experiência pentecostal que é
descrita". Semelhante terminologia é esperada, levando-se em conta as numerosas
facetas da natureza e resultados da experiência. Conforme sugere Stanley
Horton: "Cada termo ressalta algum aspecto da experiência pentecostal, e
nenhum termo individual consegue ressaltar todos os aspectos daquela
experiência .
Como consequência, a natureza análoga das expressões é tanto
óbvia quanto esperada. Além disso, a linguagem é necessariamente metafórica,
pois as expressões falam de uma experiência na qual o Espírito do Deus vivo
passa a agir dinamicamente na situação humana. Citando as palavras de J. Rodman
Williams: "Expressa-se de vários modos nessas
frases o evento/experiência da presença dinâmica de Deus no Espírito
Santo". Ele observa, corretamente, que semelhante
experiência é "grandiosa demais para quaisquer palavras
descreverem".
Dentre
as expressões análogas, parece que os pentecostais preferem "batismo no Espírito Santo".
Semelhante preferência talvez se deva ao fato de a linguagem derivar-se das declarações do
próprio Jesus, ou à profundeza do conteúdo dessa linguagem metafórica
específica. Ou seja: a analogia em vista é o batismo em água. Conforme nota
J. R. Williams: "O batismo em água significa
literalmente ser imergido na água, colocado embaixo dela, ou até mesmo ficar
ensopado nela". Com efeito, ser batizado no Espírito Santo é ficar
totalmente envolvido no Espírito dinâmico do Deus vivo, e nEle saturado.
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