sábado, 24 de janeiro de 2015

O Batismo no Espírito Santo - John W. Wyckoff

Muitas obras de teologia sistemática não apresentam um capítulo específico a respeito do batismo no Espírito Santo. Na realidade, de modo geral, a Pessoa e a obra do Espírito Santo têm sido grandemente negligenciadas. William Barclay escreve: "A história da Bíblia é a história de homens cheios; do Espírito.


Mesmo assim... nosso modo de pensar acerca do Espírito é mais vago e indefinido que nossas formulações teológicas acerca de qualquer outro elemento da fé cristã". Carl F. H. Henry observa, com pesar: "Os teólogos do passa­do... não nos deixaram nenhuma delineação plena do minis­tério do Espírito Santo". 
Felizmente a Igreja hodierna, em sua totalidade, está, finalmente, dando maior atenção ao Espírito Santo.
 Obras como as de Frederick D. Bruner e James D. G. Dunn indi­cam interesse crescente pelo assunto entre os não-pentecos-tais. Isto deve-se, em grande medida, à persistência e ao crescimento do Movimento Pentecostal. Os líderes eclesiás­ticos agora citam o Pentecostalismo como "uma terceira força na Cristandade", lado a lado com o catolicismo e o protestantismo. 
Essa "terceira força" passou a merecer a atenção dos teólogos, principalmente em razão de sua presença mundial­mente visível. Ou seja: os estudiosos reconhecem o Pentecostalismo porque ele é "uma terceira força na sua doutrina", especificamente a que trata do batismo no Espíri­to Santo. Dunn observa que os católicos enfatizam o papel da Igreja e dos sacramentos, e subordinam o Espírito à Igreja. Os protestantes enfatizam o papel da pregação e da fé, e, subordinam o Espírito à Bíblia. Os pentecostais, no entanto, reagem a esses dois extremos - ao sacramentalismo que pode se tornar mecânico e à ortodoxia biblista que pode se tornar espiritualmente morta - e reclamam uma experiência vital com o próprio Deus no Espírito Santo. 
Este capítulo divide o batismo no Espírito Santo em cinco questões ou temas subordinados: (1) a distinção entre o batismo no Espírito Santo e a regeneração; (2) as evidênci­as da experiência do batismo no Espírito Santo na vida do crente; (3) a disponibilidade do batismo no Espírito Santo para os crentes hoje; (4) o propósito do batismo no Espírito Santo; e (5) o recebimento do batismo no Espírito. O enfoque à matéria aqui apresentada é mais analítico e descritivo que apologético ou polêmico.


                            Distinção e Evidências

A distinção e as evidências do batismo no Espírito Santo são estudadas em primeiro lugar porque delas depende a maioria das posições teológicas no tocante às demais ques­tões. Isto é, as posições adotadas quanto a esses dois primei­ros tópicos definem as questões nas demais áreas.
A questão da disponibilidade hoje do batismo no Espírito Santo é muito discutida. Por um lado, muitos estudiosos da Bíblia responderão que o batismo no Espírito está à disposi­ção dos crentes atuais, mas apenas como parte da conver­são. Por outro, quando os pentecostais afirmam que o Espí­rito está disponível, argumentam em favor de uma experiên­cia distinta da regeneração, em certo sentido, e acompanha­da pela evidência física inicial do falar em línguas.
Além disso, embora a distinção e as línguas como evi­dência estejam estreitamente relacionadas entre si, não dei­xam de ser questões separadas. Pela lógica, existem quatro possíveis posições quanto à distinção e as línguas como evi­dência. Em primeiro lugar, como já foi dito, há os que pen­sam ser o batismo no Espírito Santo parte da experiência da conversão, sem qualquer evidência inicial, como o falar em outras línguas. Esta posição é representada por Dunn e Bruner. Em segundo lugar, há os que admitem o batismo no Espírito Santo como parte da experiência da conversão, sempre acom­panhado pela evidência especial do falar em outras línguas. Esta é a posição de alguns grupos pentecostais da Unicidade. Em terceiro lugar, há os que acreditam que o batismo no Espírito Santo usualmente vem após a regeneração, mas a experiência nem sempre é acompanhada pelo falar em ou­tras línguas. Esta é a posição de alguns grupos oriundos do movimento da Santidade, como a Igreja do Nazareno. Em quarto lugar, há os que defendem o batismo no Espírito Santo como uma experiência geralmente ocorrida após a regeneração e sempre acompanhada pela evidência especial do falar em outras línguas. Esta é a posição de igrejas pente­costais como as Assembleias de Deus. 

Terminologia

A expressão "batismo no Espírito Santo" não se acha na Bíblia. Nem por isso deixa de ser bíblica, pois tem a sua origem na fraseologia semelhante empregada pelos escritores bíblicos. Os três escritores dos evangelhos sinóticos relatam a comparação que fez João Batista entre o seu trabalho de batizar em água e a obra futura de Jesus (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). A respeito de Jesus, diz João: "Ele vos batizará no Espírito Santo". Lucas retoma a terminologia em At 1.5, ao descrever as palavras de Jesus aos seus seguidores: "Vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias". Lucas emprega a terminologia pela terceira vez em Atos 11.16 ao narrar como Pedro interpretou a experiên­cia na casa de Cornélio. Explicando aos crentes em Jerusa­lém como Cornélio recebeu o Espírito Santo, Pedro lembra-lhes as palavras do Senhor: "Sereis batizados no Espírito Santo". Parece que esta terminologia encaixava-se no pen­samento de Pedro como perfeita para descrever a experiên­cia de Cornélio ao falar em línguas. Na realidade, a única diferença entre a expressão "batismo no Espírito Santo" e as que aparecem nas referências bíblicas citadas é que aquela emprega a forma substantivada "batismo", ao invés das for­mas verbais. 
Outro detalhe a ser notado é que a expressão "batismo no Espírito Santo" é apenas uma entre várias frases bíblicas desse tipo que, segundo acreditam os pentecostais, descre­vem um evento ou experiência incomparável do Espírito Santo. Há outras fomas, também derivadas da linguagem do Novo Testamento, especialmente Atos dos Apóstolos: "es­tar cheio do Espírito Santo"; "receber o Espírito Santo"; "ser derramado o Espírito Santo", "o Espírito Santo caindo so­bre"; "o Espírito Santo vindo sobre"; e variações dessas fra­ses. 
Os pentecostais geralmente sustentam que semelhantes frases têm o mesmo significado como descrição da experiên­cia mesma do Espírito Santo. Howard M. Ervin observa que, "em cada caso, é a experiência pentecostal que é descrita". Semelhante terminologia é esperada, levando-se em conta as numerosas facetas da natureza e resultados da experiên­cia. Conforme sugere Stanley Horton: "Cada termo ressalta algum aspecto da experiência pentecostal, e nenhum termo individual consegue ressaltar todos os aspectos daquela experiência .
Como consequência, a natureza análoga das expressões é tanto óbvia quanto esperada. Além disso, a linguagem é necessariamente metafórica, pois as expressões falam de uma experiência na qual o Espírito do Deus vivo passa a agir dinamicamente na situação humana. Citando as palavras de J. Rodman Williams: "Expressa-se de vários modos nessas frases o evento/experiência da presença dinâmica de Deus no Espírito Santo". Ele observa, corretamente, que seme­lhante experiência é "grandiosa demais para quaisquer pala­vras descreverem". 

Dentre as expressões análogas, parece que os pentecos­tais preferem "batismo no Espírito Santo". Semelhante pre­ferência talvez se deva ao fato de a linguagem derivar-se das declarações do próprio Jesus, ou à profundeza do conteúdo dessa linguagem metafórica específica. Ou seja: a analogia em vista é o batismo em água. Conforme nota J. R. Williams: "O batismo em água significa literalmente ser imergido na água, colocado embaixo dela, ou até mesmo ficar ensopado nela". Com efeito, ser batizado no Espírito Santo é ficar totalmente envolvido no Espírito dinâmico do Deus vivo, e nEle saturado.


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