segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Tradução da Bíblia

Era preciso a tradução da Bíblia para dar cumprimento às palavras do Senhor Jesus após ressuscitar: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15). Ora, o mundo está dividido em nações, tribos e povos, cada qual com suas línguas. Hoje, quando vemos as Escrituras traduzidas em mais de 1.700 línguas, sabemos que Aquele que comissionou os discípulos para tão grande obra, prove­ria também os meios para a sua realização.

a. Versões semíticas.

1) O Pentateuco Samaritano.
Não é propriamente uma versão. É o texto hebraico do Pentateuco, escrito nos velhos caracteres hebraicos ou em samaritano. O samaritano é um dialeto oriundo do hebrai­co antigo, surgido com a mistura do povo assírio trazido para Samaria por Sargão II, por ocasião do cativeiro das 10 tribos. É uma mistura do hebraico antigo com o assírio. Dele existem muitas cópias. É a Bíblia da seita dos sama-ritanos, que teve início com a expulsão de Manasses de Je­rusalém (Ne 13.23-30), e a conseqüente construção de um
templo rival no monte Gerizim. Isso marcou o início da contínua separação, pela qual "os judeus não se comuni­cam com os samaritanos" (Jo 4.9). Em 1616, Pietro Delia Valle trouxe para a Europa o primeiro exemplar do Penta­teuco Samaritano, comprando-o em Damasco, da mão de um samaritano. Os MSS existentes estão escritos em sa­maritano. Em Nablus (a antiga Siquém) os samaritanos exibem antigos MSS do Pentateuco Samaritano na sina­goga que lá se encontra. Há um desses manuscritos que eles afirmam ter sido escrito por um bisneto de Moisés, no 13? ano após a conquista de Canaã, por Josué, o que sabe­mos ser mera conjectura, sem fundamento.
2) Os Targuns.
São paráfrases ou explicações, em aramaico do AT. A palavra significa "interpretações". Quando os judeus re­gressaram do exílio, tinham perdido o uso do hebraico. Era preciso que tivessem as Escrituras em hebraico, mas tam­bém era preciso que alguém lhes transmitisse o real signifi­cado do texto. Nesse tempo, a leitura em público, das Es­crituras, era seguida de explicação pelo leitor, para que o povo pudesse entender (Ne 8.8.) Os Targuns eram a princí­pio resumidos e simples, mas pouco a pouco tornaram-se aperfeiçoados e, finalmente foram reduzidos a escrita. Os principais Targuns são:
• O da Lei, feito por Ónquelos, amigo de Gamaliel, do Século II d.C.
Os dos Profetas e Livros Históricos, feitos por Jonathan Ben Uziel, que diz ter sido discípulo de Hilel, de é-poca posterior. (Não confundam os Targuns com o Talmu-de; este é o conjunto de tradições judaicas e explicações orais do AT reduzidas a escrita no Século II d.C.)

b. Versões gregas.

1) A Septuaginta.
É comumente designada por "LXX". O nome vem do latim "Septuaginta", que quer dizer "70". Aristeas, escri­tor da corte de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 285-246 a.C, escrevendo a seu irmão Filócrates, conta que o referi­do monarca, por proposta de seu bibliotecário, Demétrio de Falero, solicitou ao sumo sacerdote judaico, Eleazar, que lhe enviasse doutores versados nas Sagradas Escritu­ras para preparar-lhe uma versão delas, em grego. Ele muito ouvia falar das Escrituras e queria uma versão de­las, para enriquecer sua vasta biblioteca, em Alexandria. O sumo sacerdote escolheu 72 eruditos (6 de cada tribo) e enviou-os a Alexandria, os quais completaram a versão em 72 dias. Josefo registra o fato com detalhes que o espaço não nos permite registrar. De 72 derivou-se o nome "Sep­tuaginta."
A tradução foi feita na ilha de Faros, situada no porto da cidade. Essa Bíblia teve a mais ampla difusão entre as nações, especialmente naquelas onde estavam os judeus da dispersão oriunda do cativeiro. Os magos que visitaram o menino Jesus, sem dúvida, conheciam esta Bíblia no Oriente. Foi a Septuaginta um dos meios que Deus usou na preparação dos povos e nações para o advento do Evange­lho que seria proclamado por Jesus e seus discípulos, ao chegar a "plenitude dos tempos" (Gl 4.4). Ela, por onde quer que ia, disseminava as profecias que apontavam para o Messias. A língua grega foi outro veículo usado por Deus. Ela serviu para levar o Evangelho ao mundo de então.
Foi a Septuaginta a primeira tradução completa do AT, do original hebraico. Foi também ela que situou e di­vidiu os livros por assuntos como os temos hoje: Lei, Histó­ria, Poesia, Profecia. Não há um só exemplar original da Versão dos Setenta; somente cópias, a mais antiga das quais data de 325 d.C. (É o MS Vaticano, estudado noutra parte deste capítulo.) A carta de Aristeas é tida por espú­ria por modernos estudiosos; sustentam estes que a Versão Septuaginta foi preparada aos poucos; que o Pentateuco foi traduzido em 250 a.C, e em seguida, os demais livros; terminando a versão em 150 a.C. Seja como for, é ela a mais antiga tradução da Bíblia hebraica. Os outros gran­des MSS da LXX são os já estudados códices: Vaticano, Sinaítico e Alexandrino. A Septuaginta é usada ainda hoje na Igreja Grega. Sua primeira aparição impressa é a cons­tante da Complutensiana Poliglota publicada em Alcalá, província de Madri, em 1514-1517, e distribuída em 1522 pelo Cardeal Ximenes.
2)  A versão de Áqüila, natural de Sínope, cidade do Ponto. É uma tradução puramente literal. Contém só o AT. Foi feita em 138 d.C, no reinado de Adriano. Existe em fragmentos.
3)  A versão de Teodocião, natural de Éfeso, coevo de Justino Mártir, que o menciona em seus escritos. Foi feita em 160 d.C, no tempo do Imperador Cômodo. Não é mais que uma revisão dos LXX. Contém só o AT. Teodocião era ebionita.
4) A versão de Símaco, feita em 218. Só do AT. Símaco era também ebionita. Existe em fragmentos.
5)  A Héxapla, de Orígenes. Não é propriamente uma versão; é obra compendiada. Devido a falhas na tradução da Septuaginta, Orígenes, grande erudito da igreja primitiva, compôs, em Cesaréia, a sua Héxapla, ou versão de 6 colunas, em 228 d.C. As seis colunas estão dispostas da di­reita para a esquerda, assim:
1ª O texto hebraico
2ª O texto grego traduzido do hebraico
3ª A versão de Áqüila
4ª A versão de Símaco
5ª A Septuaginta
6ª A versão de Teodocião
Jerônimo consultou essa obra no Século IV. É também citada por Euzébio, que dela copiou o texto dos LXX e também correções e edições de outros tradutores que Orí-genes incluíra. Admite-se que a famosa Héxapla perdeu-se no saque dos sarracenos contra Cesaréia, em 653 d.C. Se ela tivesse chegado até nós, teríamos hoje três traduções gregas para comparar com a dos Setenta. Dela só se conhe­ce citações. O texto dos Setenta, da Héxapla, foi publicado em 1714 por Montfaucon. Euzébio, bispo de Cesaréia (263-340) o copiara.

c. Versões siríacas.

A partir de agora, entra nas versões o NT. Poucos anos após a fundação da Igreja havia igrejas espalhadas em re­giões remotas como Ásia Menor, Roma, Antioquia, etc, isso devido ao zelo inflamado pelo Espírito Santo nos cren­tes de então. Eles percorriam as estradas acima e abaixo contando a história de Jesus. A disseminação das Escritu­ras era por meio de cópias manuscritas. Os apóstolos de Je­sus ainda viviam quando as primeiras versões siríacas fo­ram feitas.
1) A Peshito. Significa simples. Foi feita diretamente do hebraico, pela Igreja Siríaca de Edessa, no Nordeste da Mesopotâmia, no século II. Abrange pela primeira vez o NT, com exceção de poucos livros. E ainda hoje a Bíblia do remanescente da Igreja Siríaca. Começou a ser feita quan­do ainda viviam os apóstolos, isto é, no século I, e foi con­cluída entre 150 a 200 d.C. Deu origem a outras versões, como seja, a árabe, a pérsica e a armênia. Esta versão ser­viu às igrejas do Oriente.
2) A versão Filoxênia. Traduzida por Filoxeno, em 508, bispo de Hierápolis na Ásia Menor. Compreende só o Novo Testamento.

d. Versões latinas.

O latim era a língua falada pelos romanos. Foi língua importantíssima, especialmente considerando-se que o úl­timo império mundial foi o romano. O latim foi implanta­do à medida que o império romano realizava suas conquis­tas. João, em seu Evangelho, diz-nos que o título posto sobre a cruz de Jesus estava escrito também em latim (Jo 19.20). Foram as seguintes as versões latinas:
1) A Antiga Versão Latina. É também chamada Versão Africana do Norte. Foi feita na África do Norte, possivel­mente em Cartago. Abrange ambos os Testamentos. Ser­viu às igrejas do Ocidente. Seu AT foi traduzido não do texto hebraico e sim do texto grego da Septuaginta. Foi concluída em 170 d.C. Era bem conhecida por Tertuliano, falecido em 220, e de Agostinho. Teve várias revisões. Dela restam uns 40 MSS.
2)  A ítala. Também conhecida por Vetus ítala (em la­tim). É mais propriamente uma revisão da Antiga Versão Latina. Foi preparada na Itália, na segunda metade do Sé­culo II. Abrange ambos os Testamentos.
3)  A Revisão de Jerônimo. É uma revisão da Antiga Versão Latina, feita por Jerônimo em 382-387 d.C. Jerôni­mo foi encarregado disso por Dâmaso, bispo de Roma. Nesse trabalho Jerônimo utilizou a Héxapla de Orígenes. Foi nesse tempo que a Septuaginta começou a cair em de­suso.
4)  A Vulgata. É uma nova versão da Bíblia por Jerôni­mo. O AT foi traduzido diretamente do hebraico, e do NT revisto. Em assuntos bíblicos, foi Jerônimo o homem mais sábio do seu tempo. Era também dotado de grande pieda­de e valor moral. Para realizar esta obra, ele instalou-se num mosteiro, em Belém. Baseou-se na Héxapla de Oríge­nes. A versão foi feita em 387-405 d.C. Tinha Jerônimo 60 anos quando iniciou a tarefa. Já antes, em Belém, fizera a revisão da Antiga Versão Latina.
A Vulgata foi a Bíblia da Igreja do Ocidente na Idade Média. Foi também ela o primeiro livro impresso após a invenção do prelo, saindo à luz em 1452, em Mogúncia, Alemanha. Devido à popularidade e difusão que teve, foi, no tempo de Gregório o Grande (604 d.C), denominada "Vulgata", do latim "vulgos" = povo, isto é, versão do po­vo, popular, corrente. Por mil anos a Vulgata foi a Bíblia de quase toda a Europa. Foi ela também a base de inúme­ras traduções para outras línguas. Foi decretada como a Bíblia oficial da Igreja Romana no Concilio de Trento, 4? Sessão, em 8 de abril de 1546; decreto este somente cum­prido em 1592 com a publicação de nova edição da Vulgata pelo Papa Clemente VIII. Jerônimo nasceu em 342 e fale­ceu em Belém, em 420.

e.  Outras versões orientais. Entre estas podemos mencionar:

1) As versões egípcias ou cópticas. São 3 as de primeira ordem. Foram feitas até o ano 500 d.C.
2) A Etíope, feita em 330, abrangendo ambos os Testa­mentos, com base na LXX.
3)  A Gótica, feita em 350, de ambos os Testamentos também, com base na LXX.
4)  A Armênia, feita no Século V. Base: os LXX.
5)  A Georgina, feita no Século V. Preparada por meio de cópias da versão Armênia.
6)  A Eslavônica, feita no Século IX. Base: os LXX. É ainda hoje usada pelos eslavos orientais e meridionais. Ambos os Testamentos. Foi preparada por dois irmãos missionários tessalonicenses à Bulgária e Morávia: Cirilo e Metódio.
Além destas versões orientais, há ainda as versões ára­bes, mas, de pouca importância para a crítica textual.
f.  Versões européias.
Após um intervalo de 300 anos, começaram no Século XII as traduções nas línguas da Europa, tais como o fran­cês (1487), o italiano (1432), o alemão (1534), o sueco (1541), o dinamarquês (1550), o holandês (1560), o espa­nhol (1602), o finlandês (1642), o português (1681), etc. Hoje em dia a Bíblia está traduzida não só em todas as principais línguas da Europa, como também em todas as principais do mundo.
Em muitos dos países acima mencionados, houve tra­dução das Escrituras em datas bem anteriores, mas em porções e com diminuta circulação. A base da maioria das traduções que acabamos de mencionar foi a Vulgata.
Das versões européias, vamos destacar apenas três, de­vido à sua importância, que são:

1) Versões inglesas. Foi a Bíblia que formou a mentali­dade do povo inglês e firmou a seriedade nacional. O povo inglês tem alta veneração pela Bíblia. Ela é tida e conside­rada como o sustentáculo daquele povo. Quando certo im­perador chinês perguntou à rainha Victória: - "Que fez a vossa nação tornar-se tão importante em todos os senti­dos?" Tomando uma Bíblia em suas mãos, respondeu a rainha: - "Este Livro, senhor".
A Inglaterra foi a primeira nação a ter a Bíblia em sua própria língua. Até então, as Escrituras estavam encerra­das em latim, desde muitos séculos; língua essa já desco­nhecida do povo em geral. Pequenas porções da Bíblia fo­ram traduzidas para o inglês a partir do Século VIII. Beda, falecido em 735, traduziu os quatro Evangelhos. Outras porções foram traduzidas até 1300 d.C.
Houve 13 principais versões em inglês, abrangendo a Inglaterra e os Estados Unidos, feitas entre 1380 e 1978. A primeira, de 1380, foi feita por John Wycliffe. Este foi um grande erudito e estudioso das Escrituras. Decidiu tradu­zir toda a Bíblia para a língua inglesa. O NT foi concluído em 1380. Até que ponto Wycliffe traduziu o AT é incerto, pois morreu em 1380, antes de completar a tarefa. Depois de morto, seu túmulo foi aberto por ordem do Papa; seu es­queleto foi queimado e as cinzas lançadas ao rio Swift. Seus auxiliares concluíram o trabalho após sua morte. É tradução da Vulgata. Tanto Wycliffe como seus auxiliares enfrentaram tenaz oposição. O prelo ainda não existia, e um escriba levava muitos meses para copiar uma Bíblia. Os exemplares eram caríssimos. Foi publicada em 1388 por Purvey, já com revisões. Purvey era o assistente de Wyclif­fe.
Pela ordem, o segundo tradutor inglês foi Tyndale. Es­tudou em Cambridge e Oxford. Conhecia a fundo o grego e demais línguas bíblicas. A Bíblia do Tyndale foi a primeira versão inglesa feita dos idiomas originais. Foi também a primeira Bíblia impressa em inglês. Tyndale enfrentou tal perseguição na Inglaterra, que foi obrigado a seguir para a Europa continental para poder continuar seu trabalho. Publicou ele o NT em Worms, Alemanha, em 1525. Devido à perseguição, os exemplares tiveram de entrar na Ingla­terra como contrabando. Lá, quando descobertos, eram queimados. Tyndale foi morto antes de concluir a tradução do AT. Foi estrangulado e depois queimado, em 6 de ou­tubro de 1536, pelos católico-romanos de Antuérpia. A in­fluência do seu monumental trabalho continua até hoje, porque a famosa Versão Autorizada, hoje em uso, é prati­camente uma revisão da de Tyndale.

As quatro principais versões recentes inglesas são:

a)  A Versão Autorizada ou Versão do Rei Tiago. Seis meses após Tiago subir ao trono da Inglaterra (1603) presi­diu uma conferência religiosa em Hampton, já em 1604. A conferência tinha por fim considerar as queixas dos purita­nos contra os anglicanos. Dessa conferência resultou a no­meação de 54 teólogos para prepararem uma nova versão da Bíblia (mas só 41 tomaram parte na obra). Foi publica­da em 1611. Continua até hoje sendo a Bíblia favorita dos povos de fala inglesa. Há 3 séculos vem ela mantendo o primeiro lugar entre as demais versões em inglês.
b) A Versão Revisada (English Reuised Version). Feita por um grupo de sábios ingleses e norte-americanos. O Novo Testamento foi publicado em 1881 e o AT em 1885. Tem grande vantagem sobre as Bíblias anteriores. É uma revisão da Versão Autorizada. No seu preparo foram utili­zados MSS a que os teólogos da Versão Autorizada não ti­veram acesso. Nela tomaram parte homens famosos como Sayce, Driver, Angus, Lightfoot, Westcott e outros douto­res da Bíblia.
c)  A Versão Revisada Americana (American Standard Version). Esta versão é o texto preferido pelos membros norte-americanos do Comitê que preparou a Versão Revi­sada de 1881-1885. Foi publicada em 1900 (NT) e 1901 (AT).
d)  A Versão Padrão Revisada (Revised Standard Ver­sion).^ mais uma nova versão do que revisão. Foi preparada nos Estados Unidos. Os primeiros passos para essa grande obra foram dados em 1929 quando foi nomeado o corpo de teólogos tradutores e mestres de reconhecida competência. Alguns deles foram Goodspeed, Moffat, Millar Burrows, Abright. Novos textos originais foram consultados. O NT foi publicado em 1946 e o AT em 1952. Há prós e contras quanto a esta versão. Não teve a popula­ridade que era de se esperar. As quatro versões mais recen­tes são: New English Bible (1970); Good News Bible (1976); Jerusalém Bible (1966), e New International (1978). Esta última é considerada a versão mais fiel publi­cada até hoje em língua inglesa.
2)  Versão alemã. Lutero preparou-a traduzindo dos ori­ginais. Concluiu-a em 1534. Houve antes outra versão deri­vada da Vulgata, de tradução literal, no Século XIV. Lute­ro executou o trabalho em plena Reforma, publicando a versão em 1522. Esta Bíblia foi de inestimável valor para o Movimento da Reforma. Foi tão bem feita que serviu de base para o alemão literário. Na Alemanha, a Bíblia é con­siderada como o começo da literatura alemã.
3)  Versões em português. Como aconteceu em relação a outros idiomas, a Bíblia não foi inicialmente traduzida por inteiro em português. D. Diniz, rei de Portugal (1279-1375), traduziu da Vulgata uma parte do livro de Gênesis. O Rei D. João I (1385-1433) ordenou a tradução dos Evan­gelhos. Esse mesmo rei traduziu os Salmos. Frei Bernardo traduziu o Evangelho de São Mateus no Século XV. Em 1495, a rainha Leonor, casada com D. João II, mandou publicar o livro "Vida de Cristo", uma espécie de harmo­nia dos Evangelhos. Em 1505, a mesma rainha mandou imprimir os Atos e Epístolas Universais.
Agora vejamos as traduções completas.

a) A Versão de Almeida.
João Ferreira d'Almeida foi ministro do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa, em Batávia, então capital da ilha de Java, na Oceania. (Batávia é agora a moderna Dja-karta, capital da Indonésia) Java era então domínio holan­dês, conquistada aos portugueses. Almeida traduziu pri­meiro o Novo Testamento, terminando-o em 1670; em 1681 foi ele impresso em Amsterdam, Holanda, isto é, 100 anos antes da primeira edição católica da Bíblia - a de Figueire­do, 1781! Almeida traduziu o Antigo Testamento até Eze-quiel 48.21, quando então faleceu em 1691. Missionários seus amigos completaram a tradução, especialmente Ja-cob Opden Akker. Almeida fez sua tradução do grego e hebraico, línguas que estudou após abraçar o Evangelho. Utilizou também as versões holandesa (de 1637) e a espa­nhola (de Valera, 1602). Seu Antigo Testamento foi publi­cado em 1753, em Amsterdam. A Sociedade Bíblica Britâ­nica e Estrangeira começou a publicar o texto de Almeida em 1809, publicando a Bíblia completa pela primeira vez, em 1819. O texto de Almeida não era muito bom por ele ter deixado Portugal muito cedo e não ter cultura profunda.
O texto de Almeida foi revisado em 1894 e 1925. Em 1951, a Imprensa Bíblica Brasileira (organização batista independente) publicou a "Edição Revista e Corrigida", abreviadamente ARC.
Uma comissão de especialistas brasileiros trabalhando de 1945 a 1955 apresentou recentemente a "Edição Revista e Atualizada" de Almeida (ARA). É uma obra magnífica com linguagem qualificada e de melhor tradução. O NT foi publicado em 1951 e o AT em 1958. A publicação é da So­ciedade Bíblica do Brasil. A comissão revisora compôs-se de 30 elementos dos mais abalizados de várias denomina­ções. Foram membros, figuras como Sinésio Lira, A.C. Gonçalves, Crabtree, R.G. Bratcher, W. C. Taylor. Foi usado o texto grego de Nestle para o NT, e o hebraico de Letteris, para o AT. Fez-se o melhor possível. Há uma co­missão permanente de revisão acompanhando os progres­sos da crítica textual.
Alguns dados pessoais de Almeida. Nasceu em Torre de Tavares, em Portugal, em 1628. Emigrou para a Holanda, e daí seguiu para Java, achando-se aí em 1641. Converteu-se na Igreja Reformada Holandesa em 1642 por meio de um folheto que tratava sobre a "Diferença da Cristandade en­tre a Igreja Reformada e a Igreja Romana". Casou-se em 1651 com a filha de um pastor. Foi ordenado ao santo mi­nistério em 16 de outubro de 1656. Aprendeu grego e hebraico e começou a traduzir o Novo Testamento, tendo como base o "Textus Receptus" dos irmãos Elzevirs, segunda edição de 1633. Faleceu em 6 de agosto de 1691. A Igreja Católica, através do tribunal da Inquisição, quei­mou-o em estátua, em Gôa, antiga possessão portuguesa na índia. A Igreja Romana, nem mesmo agora, no chama­do Ecumenismo, se desculpou de tais coisas...
b)  A Versão de Figueiredo.
O padre Antônio Pereira de Figueiredo, português, le­vou 17 anos no preparo de sua versão. Publicou o NT em 1781 e o AT em 1790. É tradução da Vulgata. Foi um dos maiores latinistas do seu tempo. Desde 1821, a SBBE publica o texto de Figueiredo. O texto atual publicado pela SBBE é superior ao primitivo.
c) A Tradução Brasileira. Começou em 1904, por uma comissão de vultos do evangelismo brasileiro, nomeada pela SBA (Sociedade Bíblica Americana) e SBBE (Socie­dade Bíblica Britânica e Estrangeira). Entre outros, foram membros da comissão: Antônio Trajano, Eduardo Carlos Pereira e Hipólito de Oliveira Campos. O NT foi publicado em 1910 e o AT em 1917. A tradução é mui fiel ao original. Há muita rigidez na tradução. Falta-lhe a beleza de estilo e a segurança vernacular, porque a tradução é literal, e não à base da equivalência dinâmica, como se diz em lingüísti­ca.
d) A Versão de Rhoden. Consta só o NT. Era padre bra­sileiro de Santa Catarina, quando da tradução. Começou o trabalho como estudante, na Alemanha, em 1924-1927, concluindo-o no Brasil. Foi publicada em 1935. Este padre deixou a Igreja Romana. É versão muito usada para estudo comparativo e crítica textual. O texto grego usado foi o de Nestle.
e) A Versão de Matos Soares. Também padre brasilei­ro. Traduziu a Vulgata. Concluiu a tradução em 1932, mas só em 1946 foi publicada. É a Bíblia popular dos católico-romanos brasileiros. A versão carece de fidelidade. Como todo tradutor católico, nota-se em Matos Soares precon­ceitos e tendências, especialmente nos itálicos, que às ve­zes tem texto maior que o próprio original. O Papa é coni­vente nisto, conforme sua carta do Vaticano de 1932.

Alguns outros informes sobre a Bíblia em português.
• A Bíblia foi impressa a primeira vez no Brasil, em 1944, pela Imprensa Bíblica Brasileira.
• Entre as Bíblias mais populares do mundo está a em português. As outras são: a Vulgata, a de Lutero, e a Ver­são Autorizada (inglesa).
• Há no Brasil três entidades evangélicas publicadoras e distribuidoras de Bíblias. A primeira é a Imprensa Bíbli­ca Brasileira fundada em 1940. A segunda é a Sociedade Bíblica do Brasil fundada em 10-06-1948, resultante da fu­são das agências da SBA e SBBE que funcionavam no Bra­sil. A terceira é a Sociedade Bíblica Trinitariana, com sede em São Paulo.
• A primeira agência distribuidora de Bíblias no Brasil foi a da SBBE, em 1856; a segunda foi a da SBA, em 1876, ambas na cidade do Rio de Janeiro. Antes disso, vinham Bíblias para o Brasil através de comandantes de navios, que as entregavam a casas comerciais para revenda. A mais antiga Sociedade Bíblica do mundo é a SBBE funda­da em 1804; a segunda é a SBA, fundada em 1816.
• Na distribuição de Bíblias em todo o mundo, o Brasil ocupa o segundo lugar!

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