I. CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
1. As dificuldades da
Bíblia situam-se no campo da Hermenêutica Sagrada.
2. Hermenêutica é
o estudo das leis e princípios de interpretação das Sagradas Escrituras, para
se chegar ao sentido do texto bíblico.
3. O termo "hermenêutica" significa
literalmente "interpretar" e deriva do vocábulo grego
"Hermes", um dos chamados deuses da antiga mitologia grega, porta-voz
dos deuses e protetor dos viajantes. Era o deus do comércio e dos
comerciantes.
4. O termo grego
"Hermes", corresponde ao latino "Mercúrio", palavra esta
derivada de "merx", mercado, comércio, e aparece em Atos
14.12, ligado ao evento ocorrido em Listra, na Ásia Menor, quando os
habitantes dessa cidade, vendo um milagre operado por meio de Paulo,
julgaram-no um deus, chamando-o de Mercúrio.
5. No paganismo romano,
Mercúrio era filho de Júpiter, também mencionado em Atos 14.12. Júpiter
era chefe dos deuses no Panteão Romano. (Júpiter, corresponde ao falso
deus grego, Zeus).
6. Passagens históricas da Bíblia, como Atos
14.12, precisam ser encaradas no contexto histórico da sua época.
7. A Bíblia foi tecida no tear da História, e
não pode ser realmente compreendida se o leitor ignorar os acontecimentos e as
circunstâncias que a cercam, como por exemplo, a igreja primitiva e seu lugar
no mundo gre-co-romano.
II. REQUISITOS PARA O
PROGRESSO NO CONHECIMENTO DAS SAGRADAS ESCRITURAS
Antes de abordarmos o
campo das dificuldades bíblicas, vejamos alguns assuntos prioritários que
devem preceder à abordagem de dificuldades bíblicas. Um deles é o dos requisitos
para o progresso no conhecimento das Sagradas Escrituras.
O plano de Deus para o
cristão é que uma vez salvo prossiga até o pleno conhecimento da verdade (1 Tm
2.4 ARA). A tragédia é que milhões de cristãos estacionam após o primeiro passo
na vida cristã, o que infalivelmente resulta no seu nanismo espiritual. Alguns
requisitos ou fatores de progresso no conhecimento da Palavra de Deus, são os
que passamos a considerar. 1.^4 espiritualidade do cristão (1 Co 2.15) É
o cultivo da vida espiritual profunda. Essa
espiritualidade fundamenta-se
num profundo amor à Palavra de
Deus (Dt 6.6b). Considerar, aí, o termo afetivo "coração".
2. A operação do
Espírito Santo no cristão (Jo 14.26; 16.13)
3. A oração constante
do cristão (Tg 1.5)
4. O ministério de ensino de mestres cristãos
(Ef 4.11) Deus tem na sua Igreja pessoas com o dom e o ministério de
ensinar a sua Palavra.
5. Livros apropriados
(2 Tm 4.13) Livros de cultura bíblica e secular.
6. Domínio da língua
materna
- Como poderá o leitor
entender o sentido bíblico do texto, se não entender antes, o que diz
o texto na su? língua materna?
7. Conhecimento das línguas originais da
Bíblia.
8. Conhecimento de Hermenêutica Sagrada.
III. REGRAS PARA
ELIMINAÇÃO DE DIFICULDADES BÍBLICAS
Este é outro assunto prioritário
em relação a dificuldades da Bíblia. Seguem-se algumas regras simples, postas
em prática pelo autor, no estudo da Bíblia, anos a fio.
1. Leitura simples,
mas contínua da Bíblia toda
A leitura seguida e
completa de toda a Bíblia é a única maneira de conhecermos toda a verdade sobre
um assunto que se quer conhecer.
- Por que é preciso ler
toda a Bíblia, nesse caso? - Porque a revelação divina através da Bíblia é
progressiva. Isto é, nada é dito de uma vez, nem uma vez por todas. Um assunto
inicia em Gênesis e termina no Apocalipse, por exemplo.
2. 0 contexto bíblico. Deve-se considerar
sempre o contexto do que se estiver lendo. Destacar textos bíblicos,
isolar idéias, enquadrar num tema geral ensinos de uma só parte da Bíblia, é
cair em grave erro.
1) 0 contexto geral da Bíblia. Isto é, a
analogia geral da Bíblia é um fato. Noutras palavras: nela não há contradições.
2) 0 contexto imediato da Bíblia. Este
pode ser anterior ou posterior ao texto que se lê ou estuda.
3) 0 contexto remoto da Bíblia é o que
fica a longa distância do texto em consideração, mas que com ele faz liame.
3. Comparar Escritura com Escritura (2 Pe
1.20)
Aqui o estudante precisa
ter um prévio e geral conhecimento geral da Bíblia e dispor, pelo menos, de
uma concordância bíblica completa. Isto é, deixar a Bíblia falar por si mesma!
4. Qualificações intelectuais do estudante
5. Qualificações espirituais do estudante Especialmente
humildade e piedade.
6. Os sentidos da Escritura
O estudante da Palavra
de Deus deve ter sempre em mente durante o estudo, os dois grandes sentidos do
texto bíblico:
• O sentido literal do
texto.
• O sentido figurado do
texto.
IV. O PERIGO DO INTELECTUALISMO
1. O nosso século é caracterizado pela busca
incessante do saber por parte de todos, e também pela oferta do saber,
considerada a multiplicação e a modernização dos meios de comunicação de massa
e instituições de ensino. Essa busca e oferta podem ser do saber legítimo ou
do falso (1 Tm 6.20).
2. Na área da Bíblia há uma tendência atual do
estudante de depender primeiramente do seu intelecto, de cursos, de saber
acumulado, de livros de consulta, sem depender primeiramente dos meios
divinos, caindo, assim, infalivelmente, no modernismo teológico, no
ra-cionalismo e no humanismo, no liberalismo teológico.
3. Os livros, escolas e cursos podem ser bons,
mas jamais serão substitutos da Bíblia mesma.
4. Devemos, sim, examinar livros, mas não para
sermos um mero eco ou reflexo deles. Há divergência entre autores de livros,
mas na Bíblia, jamais!
Não devemos levar mais
tempo com os livros, do que com a própria Bíblia!
V. DIFICULDADES DA BÍBLIA
• Referências a
considerar, ao se estudar este assunto (Dt 29.29; SI 145.3; Ez 14.23; Rm
11.33,34; 1 Co 13.12; 2 Pe 3.16).
• Há, é certo, dificuldades
na Bíblia, mas não contradições.
Não há nela contradições
históricas, nem científicas, nem doutrinárias.
• As dificuldades da
Bíblia são todas do lado humano, como: tradução mal feita, estudo superficial,
má compreensão, incapacidade humana, idéias preconcebidas, falsa aplicação do
texto, falhas de editoração, interpretação forçada.
• Os inimigos da Bíblia,
ou aqueles que a encaram apenas como literatura comum, sustentam haver erros
nela, mas é claro que um espírito ceticista, farisaico, precon-ceituoso e
orgulhoso, sempre achará falhas na Bíblia, porque dela se aproxima querendo
"importar" suas falsas idéias, quando a atitude correta, devia ser
"exportar" as idéias dela.
• Se alguma falha for
encontrada na Bíblia, será sempre do lado humano.
Portanto, ao
encontrarmos na Bíblia um trecho discre-pante, não pensemos logo que é erro!
Saibamos refletir como Agostinho, que disse: "Num caso desses, deve haver
erro do copista, ou tradução mal feita do original, ou então sou eu mesmo que
não consigo entender!" Passemos agora a considerar as dificuldades da
Bíblia
1. DIFICULDADES
LINGÜÍSTICAS
a. Línguas originais
antigas
Línguas essas que
evoluíram tremendamente. As duas principais línguas originais são o
hebraico e o grego.
Uma dessas línguas é
semítica: o hebraico; outra é helênica: o grego.
b. Linguagem figurada
em abundância Isto é um fato comum na Bíblia.
c. Diferentes gêneros
literários
Isto, por serem muitos
os escritores, como por exemplo:
Epístola Biografia
Poesia História Drama Tragédia
d. Má tradução das
línguas originais Isto constitui séria dificuldade.
e. Língua materna do
falante
(Alguns exemplos na
Bíblia, de dificuldades lingüísticas. 1) Gênesis 10.25
"E a Éber nasceram
dois filhos: o nome dum foi Pele-que, porquanto em seus dias se repartiu a
terra..." Aqui, se trata de repartir no sentido de fissura, separação,
divisão.
Há muitos verbos
hebraicos que significam dividir, repartir, havendo pequena diferença
entre eles. Dois desses verbos têm significado bem diferente:
"cha-lak", dividir, aquinhoar, partilhar. O outro verbo é
"palag", dividir fazendo pressão ou força sobre o objeto a ser
dividido. É este o verbo usado em Gênesis 10.25.
Trata-se, pois, aqui, na
terra sendo dividida em continentes.
Em Gênesis 1.9, temos a
terra formando um só bloco. No mesmo livro, 10.25, temos a terra sendo dividida
em continentes. Ainda hoje os continentes continuam se separando, conforme
afirma e comprova a ciência.
2) Esdras 4.6
"E sob o reino de
Assuero, no princípio do seu reinado, escreveram uma acusação contra os
habitantes de Ju-dá e de Jerusalém".
Esse "Assuero"
é o mesmo "Xerxes" da História secular.
"Assuero" é
vocábulo hebraico; "Xerxes" é vocábulo grego.
3) Isaías 45.1
"Assim diz o Senhor
ao seu ungido, a Ciro." Ciro, chamado por Deus de "meu ungido",
sendo ele um homem não-crente.
O termo
"ungido", em hebraico é "messias". Este termo não se
refere apenas a Jesus. Nalgumas passagens, refere-se a reis, profetas, e
sacerdotes de Israel. No caso de Ciro, refere-se à sua designação por Deus,
para uma missão especial. O termo, nesse caso, nada tem a ver com a
santificação ou caráter de Ciro.
4) Isaías 45.7
"Eu formo a luz, e
crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor faço todas essas
coisas". "Mal" aqui, não é mal no sentido moral, mas no
sentido de contratempos.
5) Mateus 12.40-ARC
"Pois, como Jonas
esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do
homem três dias e três noites no seio da terra".
"Baleia" na
ARC, é má tradução. No grego é "ketos", peixe. No hebraico é
"daggadol", peixe grande. Ora, todos sabem que baleia não é
peixe! A versão ARA traduziu corretamente: "peixe".
6) Mateus 23.35 + 2 Crônicas 24.20
Mateus 23.35 diz que o
homem morto no templo foi Zacarias, filho de Baraquias.
2 Crônicas 24.20,21
afirma que o homem morto no templo foi Zacarias, filho de Jeoiada. É que
o termo hebraico Jeoiada corresponde ao grego Baraquias. 2.
DIFICULDADES GEOGRÁFICAS
a. A Bíblia foi escrita
em lugares de três continentes (Europa, Ásia e África), contendo portanto
expressões, imagens mentais e pensamentos bem diferentes entre si.
b. A Bíblia cita lugares com mais de um nome
cada um, como veremos no exemplário adiante.
c. A Bíblia dá um mesmo nome a diversos lugares.
d. A Bíblia trata de lugares que há muito
trocaram de nome: (países, cidades, rios, montanhas, mares, etc).
e. Exemplos de dificuldades bíblicas
geográficas
1) Diferentes lugares com um mesmo nome: Cesaréia
de Filipo, no Norte da Galiléia, cidade inte-riorana.
Cesaréia, porto marítimo, capital política da
Palestina, nos dias de Jesus, na província da Judéia (Mt 16.13; At 8.40). Antioquia
da Síria (At 13.1) Antioquia da Pisídia (At 13.14)
2) Um mesmo lugar com mais de um nome:
Mar da Galiléia
Mar de Genezaré
Mar de Tiberíades
3) Lugares que trocaram de nome:
Pérsia (Irã)
Babilônia (Iraque)
Ilírico (Iugoslávia)
Sevene (Ez 29.10)
corresponde à moderna Assuam, no
Egito.
3. DIFICULDADES
ANTROPOLÓGICAS
a. Toda dificuldade
bíblica é basicamente antropológica.
b. Incapacidade de compreensão da revelação
divina.
c. Incompetência do
leitor.
d. Ignorância de fatos
que esclarecem o assunto.
e. Nanismo espiritual.
f. Exame superficial do texto bíblico.
g. Culturas orientais
dos tempos bíblicos, totalmente diferentes das nossas ocidentais atuais. São
usos e costumes que já não existem, nem mesmo lá no Oriente, quanto mais aqui.
h. Desqualificação do
estudante, por incompetência de cultura geral, cultura bíblica, e crítica
textual científica (Hermenêutica).
i. Diferentes
personagens com o mesmo nome.
j. Nomes diferentes
dados a uma mesma pessoa.
1. Exemplário de
dificuldades antropológicas
1) Herodes. Há sete deles na Bíblia. Como
diferençá-los.
2) César, o imperador. Há três
mencionados no NT. É preciso determinar qual deles é o do texto em tratamento.
3) Diferentes nomes para uma pessoa:
Jetro, o sogro de Moisés aparece na Bíblia
com quatro antropônimos:
• Jetro (Êx 3.1)
• Reuel (Êx 2.18)
• Raguel (Nm
10.29) (FIG)
• Hobabe (Jz 4.11)
(Não confundir com
Hobabe, filho do próprio Jetro, Nm 10.29).
O rei Jeoiaquim, de
Judá, aparece com três nomes:
• Jeoiaquim (2 Rs 23.36 ARC) (Jeoaquim, ARA)
• Jeconias (1 Cr 3.16,17)
• Conias (Jr
22.24 ARC)
4) Dificuldades de compreensão.
Êxodo 29.37 - "...e o altar será santíssimo:
tudo o que tocar o altar será santo".
O sentido é que tudo o
que tocar o altar deverá santifi-car-se antes disso. Mateus 18.18; 16.19
"Tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado
nos céus". O sentido, é que, aquilo que a Igreja desligar ou ligar aqui na
terra, deverá ser o que já foi desligado ou ligado nos céus. Os modismos do
grego, em tais casos, são de difícil tradução para as línguas neolatinas. Outro
caso: 1 João 3.9. Temos aí o presente infinitivo ativo, no grego, de difícil precisão
em português a não ser que se adote paráfrase.
5) Contexto histórico:
Por exemplo: Filipenses
3.20: "a nossa cidade está nos céus".
"Nossa cidade"
significa nossa cidadania. O leitor precisa conhecer o sentido especial
de "cidade" entre os romanos, naquela parte do mundo, e conhecer a
história de Filipos, para entender de fato esses versículos.
4. DIFICULDADES
CRONOLÓGICAS
a. A Bíblia, quando menciona datas, fá-lo com
base em eventos importantes, mas particulares. Os escritores da Bíblia não dispunham
de um sistema de datas, como os temos no mundo ocidental. Daí, toda cronologia
bíblica ser incerta.
b. Dificuldades nas
eras. As eras atuais entraram em uso há pouco tempo, em comparação com a
extensão da história bíblica. A Era Grega vem de 776 a.C. (data da primeira
Olimpíada); a Era Romana vem de 753 a.C. (data da fundação de Roma); a Era
Maometana vem de 662 d.C. (data em que Maomé fugiu de Meca); a Era Cristã vem
de 5 a.C. (data do nascimento de Cristo), etc.
Essa pluralidade de eras
choca o leitor comum ou leigo, que só tem noções do nosso calendário...
c. Dificuldades no
texto bíblico. Há, especialmente no período dos juizes de Israel, no
período do reino dividido, e no dos profetas, muitos períodos coincidentes em
parte, reinados associados, intervalos de anarquia política, frações de anos
tomadas por anos inteiros, parte tomada pelo todo, e arredondamento de números.
d. O erro do nosso calendário. O nosso
próprio calendário (chamado Calendário Gregoriano) está atrasado em quase 5
anos devido a um erro de cálculo de Dioní-sio, o monge que o organizou.
É ainda digno de nota
que, em 1582 d.C, o Papa Gre-gório XIII alterou o calendário cristão,
aumentando-lhe 10 dias, para corrigir uma diferença de minutos que se vinha
acumulando desde o ano 46 a.C, quando César reformou o calendário de então.
e. O dia civil. Entre os judeus era
contado de um pôr-do-sol a outro. Entre os romanos ia de uma meia-noite a
outra. O evangelista João emprega o calendário romano, de modo que parece
haver choque de horário nos eventos da paixão de Cristo, entre ele e os demais
evangelistas, mas não há.
f. O ano. O ano judeu era lunar, causando
desencontro entre ele e as estações agrícolas. Para corrigir isto, os judeus
tinham, cada três anos, um ano com 13 meses. Isto forçou os israelitas a
adotarem o ano do ciclo solar, mais tarde.
g. A Bíblia foi escrita num extenso período de
16 séculos. Isto implica uma evidente dificuldade cronológica.
h. Exemplos de
dificuldades cronológicas da Bíblia 1) Gênesis 15.13 e Êxodo 12.40
Gênesis 15.13 afirma que
a peregrinação de Israel seria de 400 anos em terra estranha. Êxodo 12.40 e Gálatas
3.17 falam de 430 anos. Gênesis 15.13 trata, sem dúvida, de arredondamento de
números, porque o somatório dos dados fornecidos pelo livro de Gênesis perfaz
430 anos, a saber: • 75? ano de Abraão (Gn 12.14), o nascimento de Isa-que,
quando Abraão tinha 100 anos (Gn 21.5) 25 anos
• Do nascimento de
Isaque (Gn 21.5) ao nascimento de Jacó (Gn 25.26)... 60 anos
• Do nascimento de Jacó
(Gn 25.26), à sua morte (Gn 47.28)...
147 anos
• Da morte de Jacó (Gn
47.28) à morte de José (Gn 37.2 + Gn 41.46 + Gn 47.28 + Gn 50.22)... 54 anos
• Da morte de José (Gn
50.22) ao Êxodo dos israelitas
(Êxodo
12.17)............................................... 144 anos
2) Gênesis 2.2,3 - .......................................430
anos
Os seis dias da criação
adâmica, foram ou não dias de 24 horas?
Foram dias de 24 horas.
É somente comparar Gênesis 2.2,3 com Êxodo 20.11 e 31.17, com o devido cuidado,
e isenção de preconceitos.
5. DIFICULDADES
IMAGINÁRIAS E PRECONCEITUOSAS
Essas dificuldades advêm
do nosso modo humano de pensar, de julgar, e de ver as coisas, e, nessa
situação, queremos interpretar a revelação divina, a. Exemplos de
dificuldades imaginárias e preconceituo-sas
1) Gênesis 6.2
"Viram os filhos de
Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de
todas as que escolheram".
Um estudo acurado dos
textos bíblicos pertinentes mostrará que "filhos de Deus" eram os
descendentes da linhagem piedosa de Sete, e que as "filhas dos homens"
eram as descendentes da linhagem ímpia cai-nita. (Ver Deuteronômio 14.1; Mateus
22.30.) Os "filhos de Deus" não poderiam jamais ser anjos decaídos,
porque estando eles decaídos, jamais poderiam ser chamados "filhos de
Deus". Por outro lado, anjos não se casam, porque pertencem a outra esfera
de vida, posição e trabalho. (Ver Mateus 22.30.)
2) João 20.12 e Marcos 16.5
João 20.12 fala de dois
anjos na manhã da ressurreição de Jesus. Marcos 16.5 fala de um anjo. Não há
aqui qualquer dificuldade, porque onde há dois, há um.
3) Atos 20.35 -
Aqui há menção de palavras de Jesus, que não são encontradas nos Evangelhos.
Não há qualquer dificuldade aqui. Muitas palavras que Jesus falou não foram registradas.
Com inúmeros milagres, ocorreu a mesma coisa (Jo 21.25).
4) Romanos 4.3 com Tiago 2.21: Abraão
justificado pela fé e pelas obras ao mesmo tempo. - Como? Pela fé, diante de
Deus, porque Deus vê fé, e não obras, para a salvação. Pelas obras, diante dos
homens, porque o homem vê obras, mudança de vida, e não fé.
6. APARENTES
CONTRADIÇÕES São aparentes contradições, apenas. Exemplos:
a. Gênesis 46.27 e Atos 7.14
Gênesis 46.27 afirma que
todos os descendentes de Ja-có que foram ao Egito, somaram 70 pessoas. Atos
7.14 afirma que eram 75 pessoas. A casa de Jacó era de 70 pessoas (Êx 1.5). A
esse número precisamos somar 5 netos de José (que já estavam no Egito).
Dois eram filhos de
Manasses: Maquir e Gileade (Nm 26.29).
Três eram filhos de
Efraim: Sutela, Bequer, Taã (Nm 26.35).
b. Números 25.9 e 1
Coríntios 10.8
Aqui se trata de um
juízo divino que ceifou milhares de israelitas.
1 Coríntios 10.8 afirma
que morreram 23.000 pessoas. Números 25.9 fala de todos os que morreram
daquela praga - 24.000
c. 1 Reis 8.12 versus 1 João 1.5
1 Reis 8.12 declara:
"O Senhor disse que habitaria nas trevas".
1 João 1.5 declara que
"Deus é luz, e não há nele treva nenhuma".
1 Reis 8.12 fala de trevas
no sentido de inescrutabilidade, mistério, infinitude.
1 João 1.5 fala de
trevas no sentido moral.
d. 1 João 2.15 e João 3.16
1 João 2.15. (gr "kosmos") Aqui a Bíblia
adverte: "Não ameis o mundo nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo
o amor do Pai não está nele". João 3.16. (gr "kosmos")
Aqui a Bíblia afirma que "Deus amou o mundo".
1 João 2.15 fala de
"mundo" como um sistema de vida, sob a influência diabólica.
João 3.16 fala do
"mundo" no sentido de "humanidade".
e. Ezequiel 20.25
Aqui se nos diz que Deus
deu a Israel estatutos que não eram bons.
O sentido é que Deus
permitiu que os captores de Israel, durante o cativeiro baixassem leis para
Israel que não eram boas para eles. Essas leis não eram a lei de Jeová, como a
vemos na Bíblia.
f. Mateus 27.9
Aqui está escrito:
"Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta
moedas de prata, preço do que foi avaliado, preço que certos filhos de Israel
avaliaram".
Ocorre que a profecia
acima, encontra-se em Zacarias 11.12,13 e não em Jeremias.
Certamente Jeremias
profetizou, e Zacarias escreveu. Ou então Zacarias recebeu profecia idêntica.
7. DIFICULDADES REAIS
DA PRÓPRIA ESCRITURA
a. Lucas 16.9. Esta
é de fato uma dificuldade bíblica, que, pelo menos o autor não sabe explicar. A
leitura em grego leva para a forma interrogativa. Tsso pode ajudar a resolver a
dificuldade.
b. 2 Tessalonicenses
2.6-8. - Quem, nesta passagem, é o elemento inibidor, repressor, quanto à
manifestação aberta do Anticristo aqui no mundo?
- Se consultarmos
Gênesis 19, concluiremos que esse elemento é a Igreja do Deus vivo, habitada
pelo Espírito Santo.
Os anjos executores do
juízo sobre as cidades da campina nada puderam fazer enquanto Ló, o justo, não
saiu de Sodoma.
De igual modo, o juízo
do Dilúvio só ocorreu após Enoque ter saído deste mundo. O mesmo acontece
agora, enquanto a Igreja do Deus vivo, habitada pelo Espírito Santo, permanecer
na terra.
c. 1 Pedro 3.18,19
Texto realmente difícil!
'"Pregou", no
v.18, é "kerusso", proclamar, anunciar (como em Ef 2.17).
A passagem, sem dúvida
está ligada a Atos 2.31 e Efésios 4.8,9.
8. DIFICULDADES CIENTÍFICAS DA BÍBLIA
A Bíblia não é um manual
de ciência, mas o manual da salvação.
Quando ela aborda fatos
científicos, fá-lo não na linguagem técnica, especializada da ciência, mas na
linguagem do povo comum. Isto, tem se constituído numa das dificuldades da
Bíblia.
a. A esfericidade da Terra (Is 40.22)
b. As estrelas são incontáveis (Jr 33.22)
c. O movimento sistemático do sol (SI
19.5)
d. O Universo envelhecendo (SI 102.25-27)
e. Fogo na crosta interior da terra (Jó
28.5)
f. O frio vem do Norte (Jó 37.9)
g. A luz tem "caminho", não
"morada"permanente (Jó 38.19).
h. A terra suspensa no espaço (Jó 26.7)
i. O ar tem peso (Jó 28.25)
j. Os elementos físicos do Cosmos são mais
antigos do que os biológicos (Gn 1.1,24) 1. O vento vem do Sul (Ec
1.6)
9. DECLARAÇÕES E ENSINOS SOBRE DEUS, EXPRESSOS
EM LINGUAGEM HUMANA
São os antropomorfismos
e os antropopatismos, tão comuns na Escritura.
Um caso de
antropopatismo: 1 Samuel 15.11 versus 1 Samuel 15.29 - (Deus
"arrepender-se").
10. DECLARAÇÕES E
ENSINOS DA BÍBLIA, SOBRE O CÉU E A VIDA FUTURA, EXPRESSOS EM LINGUAGEM HUMANA
É o caso das visões das
coisas celestiais de Ezequiel, como temos no capítulo 1 do seu livro (os
desconhecidos seres viventes).
É também o caso das
visões de João, o apóstolo, descritas no livro de Apocalipse, quando João
procura comparar as coisas celestiais com as terrenas, para poder expressar-se
sobre o que viu no Céu.
11. DECLARAÇÕES E
ENSINOS CALCADOS NO MUNDO FÍSICO, PORÉM, EM REFERÊNCIA AO MUNDO ESPIRITUAL Tanto
o Antigo, como o Novo Testamento se enquadram aqui.
12. FATOS ABORDADOS E
TRATADOS PELA BÍBLIA, QUE SÓ SERÃO CONHECIDOS NO FUTURO
E evidente que isto
constitui uma dificuldade.
Fonte: A Bíblia Através dos Séculos - Antônio Gilberto.
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